Submarino que a Marinha quer comprar teve sérios problemas na Grécia

Por Cláudio Camargo

Grandes guerreiros do mar na Antigüidade, os gregos estão vivendo uma situação de virtual guerra em águas profundas com a Alemanha por causa dos problemas apresentados pelo submarino convencional U-214 - o mesmo tipo que a Marinha do Brasil pretende adquirir. O novo modelo de submarino alemão está, literalmente, fazendo água. O desempenho do primeiro dos quatro submarinos de propulsão a diesel encomendados pela Grécia em 2000, fabricado pelo estaleiro alemão HDW, está seriamente comprometido por diversos problemas técnicos, cuja origem - projeto ou construção - ainda não está determinada. São problemas graves, como alta instabilidade em superfície (inclinação de 50 graus em situações de mar revolto), infiltração de água no sistema hidráulico durante a imersão, alto nível de ruído - o que tornaria sua detecção pelo inimigo mais fácil -, vibração no periscópio em velocidades acima de três nós - o que provoca imprecisão fatal para a mira nos alvos - e sistema de armas fora das especificações.

Desde a assinatura do contrato, o governo grego já desembolsou 1,3 bilhão de euros de um total de 1,8 bilhão. O problema foi identificado há mais de um ano, em setembro de 2005, quando estava prevista a entrega da primeira unidade, fabricada em Kiel, na Alemanha (as outras três seriam fabricadas no estaleiro grego de Skaramonga, adquirido pela HDW). A imprensa grega tem reportado que Berlim pressionou fortemente o governo de Atenas para que aceitasse a encomenda, sem que o fabricante se comprometesse formalmente a resolver as falhas. Em face da recusa do Ministério da Defesa grego em receber os submarinos com os defeitos apresentados, a ThyssenKrupp, que controla a HDW, ameaçou retirar-se do estaleiro Skaramonga. O governo grego manteve-se firme na sua decisão, lembrando que a sobrevivência do estaleiro não dependia da fabricação dos U-214, porque o Ministério da Defesa grego já havia feito grandes encomendas a ele. No último dia 30 de outubro, os alemães finalmente reconheceram a existência de problemas técnicos e se comprometeram a resolvê- los num prazo de seis meses. O governo grego não exigirá pagamento de multa por não cumprimento de contrato, mas a HDW não recorrerá caso não apresente solução.

O problema com os U-214 vendidos à Grécia tem implicações diretas para o Brasil. O comando da Marinha pretende adquirir uma unidade do mesmo modelo e reformar os cinco existentes (classe Tupi, modelo U-209, também fabricados pela HDW). A Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) do Ministério do Planejamento aprovou, nesta semana, o contrato para que um consórcio de bancos europeus financie parte de 1,08 bilhão de euros (R$ 2,9 bilhões) para a compra (do total, 136 milhões de euros deverão ser desembolsados pelo governo brasileiro). O curioso é que a essa aquisição - justificada como necessária pela Marinha para evitar duplicidade de custos logísticos – esteja sendo divulgada sem que se faça menção aos graves problemas ocorridos com o mesmo modelo na Grécia, detectados há mais de um ano. Sabe-se que técnicos alemães virão ao Brasil para explicar como pretendem corrigir as falhas. Então, por que a pressa? Por que descartar a construção do submarino nuclear - como sugeriu o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Jannot de Mattos -, se ainda não há no mundo um único submarino do tipo que a Marinha encomendou à HDW?

Fonte: Revista Brasil

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