A defesa antimíssil dos EUA encontra resistências na Europa

Marcelo Rech

Os Estados Unidos estão metidos num lamaçal chamado Iraque, de onde não sabem como nem quando saem.

Diante de uma sucessão de erros da diplomacia belicista norte-americana, a derrubada do regime de Saddam Hussein beneficia diretamente a política dos aiatolás do Irã, que já não têm mais o Iraque como ameaça.

O Irã atua com desenvoltura no país vizinho, dilacerado por uma guerra civil que também conta com pesados investimentos da família real saudita aos sunitas.

Apesar de não resolver a encrenca em que se tornou o Iraque, o governo dos Estados Unidos já trabalha para conter o avanço iraniano na região. Para tanto, pretende instalar seu sistema antimíssil na Polônia e na República Checa.

Não há, por trás dessa estratégia, nenhuma pretensão norte-americana de oferecer proteção aos aliados europeus. O objetivo atende pelo nome de Mahmoud Ahmadinejad, o novo calcanhar-de-aquiles da administração Bush.

Por outro lado, os próprios europeus começam a reagir. O Reino Unido, aliado fiel dos Estados Unidos, vai na contra-mão das pretensões de Bush e anuncia que vai retirar seus soldados do Iraque. A Dinamarca fez o mesmo e a Espanha abandonou a guerra faz tempo.

O governo norueguês, por sua vez, torna público que não apóia os planos dos Estados Unidos para desdobrar elementos do seu sistema de defesa antimíssil na Polônia e na República Checa.

Em declaração ao jornal norueguês Aftenposten, a ministra de Defesa Anne-Grete Stroem-Ericsen disse que a Noruega é contra os planos de defesa de míssil da OTAN na forma defendida pelos Estados Unidos.

Ela acredita que organização e preparação de tropas para combate de defesa de míssil dos Estados Unidos na Europa provocaria um desequilíbrio na região no momento em que a preocupação é com o desarmamento. O tema será obrigatoriamente levado a deliberação da OTAN em breve.

A ministra deixou claro que nem todos dos países membros da OTAN estão prontos para apoiar planos de defesa antimíssil dos Estados Unidos e explicou que a Noruega protestará categoricamente contra os planos desenhados pelos militares norte-americanos.

É curioso perceber que a Noruega, não exatamente um país-chave no cenário geopolítico internacional, exprime abertamente sua posição num tema que promete esquentar os debates no âmbito da segurança européia.

Esta talvez seja a primeira de muitas reações contrárias dos antigos aliados europeus à política norte-americana de converter o solo europeu num quintal para os seus interesses. Se existe convergência em alguns temas, está claro que o escudo que os Estados Unidos pretendem instalar na Europa incomoda muita gente.

Temos ainda, diferenças muito pontuais quanto ao processo de paz no Oriente Médio. Enquanto os Estados Unidos dão sinais de que podem iniciar uma nova campanha militar na região, a Noruega insiste na interação com a Síria e busca aproximação com integrantes do Hamas e da Autoridade Palestina, ao mesmo tempo em que acompanha os movimentos dos Estados Unidos em relação ao Irã.

Marcelo Rech é Editor do InfoRel.

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