Afeganistão, Baixas e… Droga. Muita Droga.

“O The Observer apresentou ontem estatísticas segundo as quais quase metade dos britânicos na frente afegã já requereram um significativo tratamento médico: mais de 700, desde Abril, só na província de Helmand. Um enviado do semanário passou três semanas no terreno e concluiu que muitos soldados tencionam deixar o serviço, porque não aguentam combates tão intensos como os que ali se travam. “Dois milhões de munições já foram disparados” pelas forças de Sua Majestade.

“O The Independent relatou que noutra frente de combate em que os britânicos estão envolvidos - os comandantes militares comunicaram ao primeiro-ministro Gordon brown, “nada mais se pode fazer” no Sueste do Iraque, pelo que os 5500 soldados lá destacados deveriam ser retirados de imediato.”

Jorge Heitor
Público, 20 de Agosto de 2007

Os sete mil soldados britânicos que combatem os Talibãs no Sul do Afeganistão enfrentam aquela que é hoje a tarefa mais difícil na luta global contra o Islamismo militante: o Afeganistão. Esta é que sempre foi a primeira e última frente com a instauração de uma “república islâmica”, não o Irão - onde a desilusão contra os governantes confessionais sempre foi elevada, especialmente nos meios urbanos - mas o Afeganistão onde atravês da influência das escolas corânicas da fronteira com o Paquistão sempre entraram os mais aguerridos militantes islâmicos. As forças locais - mais ou menos leais ao Governo de Kabul - já demonstraram cabalmente a sua incapacidade para se defenderem, quanto mais para imporem Segurança em todo o território nacional… O cenário de guerra local é actualmente muito mais intenso do que o de qualquer outro conflito no mundo, ainda mais do que Iraque onde os confrontos directos entre forças da Coligação e Resistentes são raros e sinal disto mesmo é o facto do actual conflito no Afeganistão ser já o segundo mais importante de sempre em termos de baixas sofridas pelo exército britânico, com uma taxa de baixas por militares combatentes superior mesmo à dos americanos no conflito do Vietname, o que dá uma boa medida daquilo que se passa hoje no Afeganistão… Aliás, estima-se que 1 em cada 39 militares britânicos tenham já sofrido um qualquer tipo de ferimento, tendo recebido consequentemente o supracitado “tratamento médico”. Estas baixas elevadas são consequência de um tipo de guerra que propicia ao confronto homem-a-homem e à emboscados, quer por mina ou IED, quer “clássica” e são também resultado da falta de colaboração das forças locais, que supostamente deviam estar a liderar este combate, e da ausência de meios suficientes no local… As forças aliadas no Afeganistão (que incluem forças portuguesas) são também em número insuficiente, especialmente as dos EUA (empenhadas no Iraque) e esta fraqueza está a deixar demasiado espaço para as movimentações dos Talibãs…

Sobretudo, o grande problema do Afeganistão não é directamente o reacender da actividade dos fundamentalistas islâmicos, mas a explosão da produção de Droga, que está a financiar a guerrilha Talibã e que é tolerada ou até incentivada pelo Governo de Kabul. Helman, a provincia mais patrulhada do Afeganistão é responsável, sózinha, por 34% da produção nacional de ópio e esta subiu 48% em apenas um ano!… Aliás, no geral, o Afeganistão é hoje o maior produtor mundial de Drogas, uma consequência do aumento de insegurança no Sul do País, mas também do aumento da influência dos talibãs nesta região, já que estes a usam como forma de financiamento, vendendo directamente o seu produto, ou cobrando “protecção” aos agricultores locais…

Assim, é preciso reconhecer a prioridade do Afeganistão nesta luta contra o Fundamentalismo Islâmico, empenhar aqui as forças suficientes para assegurar a vitória, ou pelo menos para impedir que o frágil, corrupto e inepto governo de Kabul torne a cair nas mãos dos fundamentalistas e travar em primeiro lugar a batalha contra as suas grandes fontes de financiamento: a Droga. Vencida esta guerra, enfrentando a resistência dos Senhores da Guerra e do próprio governo local, retirar-se-á a base deste renascimento talibã e o rumo desta guerra longínqua mais decisiva poderá finalmente inverter-se.

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