Militares reforçam patrulha nas florestas


Kayo Iglesias

Enquanto alguns parlamentares preocupam-se com o leilão de parte da Amazônia - o edital de licitação de exploração da Floresta Nacional do Jamari sai quarta-feira - as Forças Armadas ainda vêem o fantasma da invasão militar como principal ameaça à soberania nacional.

Tese de doutorado em Ciências Sociais do professor Humberto José Lourenção, da Unicamp, mostra que, a partir de 1998, o número de soldados na região de fronteira com sete países ao Norte aumentou de 3,3 mil para 23,1 mil.

No trabalho, intitulado Forças Armadas e Amazônia (1985 a 2006), o filósofo e psicólogo analisa documentos do governo e relatos extra-oficiais de militares da ativa e da reserva e constata que o foco do Exército, da Aeronáutica e até da Marinha é a proteção da floresta.

- Até a década de 80, existia o perigo do inimigo comunista. Com o fim dele, as Forças Armadas voltaram-se para outras questões nacionais, principalmente a defesa do território - explica o professor.

A movimentação de tropas, criação de novos pelotões e construção de batalhões e centros de controle na região, diz Humberto, mostram que a visão militar é de se preparar para uma invasão a longo prazo.

- Você nota que, antigamente, o maior efetivo se encontrava na fronteira ao Sul, com a Argentina.

Agora, com os acordos econômicos, e o Mercosul, passou para a fronteira com as Guianas - observa.

Para o professor, além dos Estados Unidos, passaram para a lista dos possíveis inimigos da soberania nacional grupos de países que podem projetar poder, como o G-7.

Além disso, no pensamento dos militares, as ONGs e instituições religiosas tornam-se instrumentos do grande vilão para desqualificar o Brasil na capacidade de tomar conta da Amazônia e aproveitar seus recursos com responsabilidade. Todos eles podem pleitear a concessão de florestas.

Humberto cita textos da Escola Superior de Guerra nos quais os objetivos ocultos da atuação de ONGs e missionários na floresta seriam "vulnerabilizar a sangria das riquezas nacionais por potências estrangeiras", "exigir a autonomia de nações tribais" e "usar a mídia para convencer a opinião pública nacional e internacional" por meio de "notícias falaciosas".

Humberto reconhece que, apesar de temer a invasão, o Estado ainda não se faz presente da forma que planeja. O Sistema de Proteção da Amazônia, que é interministerial, por exemplo, funciona hoje de forma precária, sem capacidade. E o professor cita os inimigos, esses, de dentro do próprio governo:

- Burocracia, gestão, interesses, falta de vontade política.

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