Iraque é exemplo de eficácia das velhas armas



Charles J. Dunlap Jr. * The New York Times

(nota DEFESA@NET o título em inglês é "We Still Need the Big Guns"
o que não é o sentido adotado na tradução)

A relativa calma que as Forças Armadas dos EUA impuseram no Iraque certamente é motivo para um otimismo moderado. Mas também levanta algumas questões óbvias: como isso foi alcançado e o que significa para o futuro planejamento da estratégia de defesa?

Compreensivelmente, muitos analistas atribuem esse sucesso ao fato de as tropas dos EUA seguirem os ditames do elogiado novo manual de contra-insurgência do Exército. Embora o manual seja bem melhor do que seus antecessores, seria um enorme erro tomar isso como uma prova de que - como tem feito a imprensa, a comunidade acadêmica e organizações políticas independentes - essa vitória sobre os insurgentes foi obtida por qualquer outra tática que não o uso de força militar tradicional.

Infelizmente, entusiastas fascinados interpretaram mal o manual ao dizerem que para derrotar uma insurgência é preciso conquistar corações e mentes com equipes de antropólogos, propagandistas políticos e agentes graduados de assuntos civis munidos de kits prontos de democracia. Eles consideram ultrapassado matar ou capturar insurgentes. (Nota DEFESA@NET: o texto original menciona "starry-eyed enthusiasts" em referência ao General Donn A. Starry,que foi o arquiteto da doutrina militar do US Army nos anos 80. Um ataque indireto ao Gen Petraeus, pois Starry também comandou o US Army TRADOC)

Mas a realidade é bem diferente. A lição do Iraque é que forças tradicionais funcionam. Acrescente 30 mil soldados da melhor infantaria do mundo aos 135 mil soldados calejados pela batalha que já estão lá, como foi feito, e a insurgência em menor número estará em séria encrenca. Detenha mais milhares de iraquianos como ameaças à segurança, e o potencial para a violência inevitavelmente declina.

Notícias veiculadas pela imprensa indicam que o número de iraquianos presos dobrou no ano passado, de 15 mil para 30 mil. E embora o número de baixas seja vago, militares disseram ao jornal USA Today em setembro que o número de insurgentes mortos era 25% mais alto do que em todo o ano de 2006.

Apesar de a nova doutrina da contra-insurgência parecer antitecnológica - desencolrajando o uso do poderio aéreo -, comandantes no Iraque conseguiram bons resultados no ano passado deixando de lado tais recomendações. Poucos americanos sabem que os ataques aéreos quintuplicaram em 2007, em relação ao ano anterior, o que ocorreu paralelamente à estratégia de reforço de tropas. Mais uma vez, recorrer à alta tecnologia mostrou ser um grande sucesso.

Dois outros fatos desconfortáveis também ajudaram a reduzir a violência. Primeiro, a população iraquiana em grande parte segregou-se em feudos sectários. Segundo, insurgentes supostamente “regenerados” agora dominam a Província de Anbar. Embora esses partidários sunitas tenham por enquanto tomado o lado dos EUA, será que podemos supor que eles incorporaram a idéia de um Iraque verdadeiramente pluralista e democrático?

Admiradores do manual de contra-insurgência usam-no como um porrete contra as pessoas que planejam a estratégia da próxima guerra em vez da atual. Segundo essa linha de pensamento, a próxima guerra será uma repetição do Iraque e, assim, a maior parte das Forças Armadas americanas deve estar estruturada para a contra-insurgência.

Mas isso não leva em conta outras possíveis ameaças. Será que devemos ignorar a crescente força da China e os planos da Rússia para desenvolver uma quinta geração de caças que irá suplantar o jato americano top de linha, o caça F-22?

Mais ainda: será que alguém acredita que criar equipes de altos funcionários dedicados a assuntos civis irá deter a Coréia do Norte e o Irã?

Sim, há sempre a possibilidade de que nos encontremos mais uma vez combatendo uma insurgência e o manual contém muitas boas idéias. Além disso, a proposta de uma equipe de 20 mil consultores para ajudar as forças locais iraquianas a combater os insurgentes deve logo receber luz verde.

O problema surge quando consideramos alocar excesso de recursos na preparação para apenas um tipo de conflito. Fazer isso colocaria os EUA numa situação de verdadeiro perigo de perder a superioridade tecnológica que tem mantido as ameaças muito mais perigosas à distância. Por exemplo, deve-se considerar que os aviões de guerra dos EUA têm pelo menos 25 anos.

O enorme custo da guerra no Iraque, sem falar na perda de vidas de ambos os lados, deveria aconselhar contra a idéia de uma operação semelhante em outro lugar. Olhando para o futuro, os EUA precisam de Forças Armadas preparadas não em ocupar outro país mas em impedir que os adversários em potencial tenham capacidade de atacar interesses americanos. Essa não é uma tarefa para contra-insurgentes, mas para Forças Armadas de alta tecnologia que substituam os cadáveres de jovens americanos por máquinas.

TRADUÇÃO DE MARIA DE LOURDES BOTELHO

* Charles J. Dunlap Jr. é major-general USAF (equivalente a brigadeiro-do-ar na FAB), autor do livro ortchanging de Joint Fight?, uma avaliação do manual de contra-insurgência do Exército. Ele escreveu esteartigo para ‘The New York Times’

1 Comentários

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