Militares descontentes com a falta de reajuste ameaçam greve



A presidente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa), Ivone Luzardo, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, estão desmoralizados perante as Forças Armadas. A razão, segundo ela, seria o descaso com que o governo vem tratando as dificuldades enfrentadas pelas tropas e a demora em conceder um reajuste real.

A Agência Brasil procurou Ivone após consultar vários militares que, protegidos pelo anonimato, confirmaram sua legitimidade para falar em nome dos servidores. Ela se tornou conhecida após liderar manifestações em prol de melhorias salariais e de condições de trabalho da categoria. Também foi candidata a deputada federal pelos Democratas (DEM) nas últimas eleições e hoje é uma das suplentes do partido.

Ivone diz que o clima nos quartéis ficou insustentável após o Ministério da Defesa ter anunciado, na última terça-feira, que o aumento que vem sendo negociado desde 2007 não sairá antes da segunda quinzena de fevereiro. Ela confirmou a existência de rumores sobre uma possível paralisação geral no próximo dia 31.

Segundo Ivone, a categoria não entende a demora. Desde 2004, os militares obtiveram 33% de reajuste, o que classificam como uma mera reposição de perdas anteriores.

Ela lembrou que, no dia 9 de outubro de 2006, o ministro Nelson Jobim recebeu representantes da Unemfa para discutir o assunto. "Ele nos disse que teria um estudo detalhado em 30 dias, que iria resolver o assunto. Nós dissemos que voltaríamos para saber uma definição. Percebemos boa vontade, mas sabemos que não depende apenas dele".

A assessoria do ministério confirmou que Jobim se comprometeu a voltar a conversar com a entidade, mas que não falou nada a respeito de apresentar qualquer detalhamento sobre o reajuste.

Ameaça de greve pela internet

O clima de insatisfação e indignação entre militares aumentou desde que o Ministério da Defesa anunciou que o reajuste salarial da categoria não sairá antes da segunda quinzena de fevereiro.

Mensagens anônimas sobre uma possível paralisação geral no próximo dia 31 já vinham sendo publicadas em fóruns de discussão na internet desde dezembro, mas se tornaram mais acaloradas após a suspensão temporária das negociações na terça-feira.

Preservados pelo anonimato, já que não podem se manifestar publicamente, alguns militares aceitaram conversar com a Agência Brasil. Comentaram o que classificam como descaso do governo e reclamaram do "tratamento inadequado" dispensado às três forças e à questão da segurança militar.

Alguns deles confirmaram os rumores sobre a manifestação, mas não atestaram se os pelotões estariam realmente dispostos a se amotinar. Coube aos aposentados e às esposas de militares tornar pública a insatisfação das tropas.

No fórum de debates do site Portal Militar, a paralisação de todas as atividades e a concentração maciça nos refeitórios das unidades militares foi anunciada no dia 18 de dezembro.

"Marque no seu calendário: 31 de janeiro, dia da primeira paralisação nacional das Forças Armadas por melhores condições de vida e salariais", escreveu um usuário do site, sob o pseudônimo Caserna7777.

"Já estou repassando as mensagens. Agora, vai ou racha. Quero ver onde vão prender tanta gente. O motim existe e vai acontecer", respondeu em seguida um usuário do site, protegido pelo codinome Agitadores.

Em resposta a um comentário sobre a ineficácia de uma paralisação militar, Gabriel36 lembrou possíveis impactos para determinados setores, como indústrias químicas, fábricas de munições, pedreiras e a própria Petrobras.

O presidente da Confederação Nacional da Família Militar (Confamil), capitão Waldemar da Mouta Campello Filho, não acredita em uma paralisação, mas classifica os rumores como "um indicador do estado de espírito de revolta, motivado por insatisfação". A Confamil reúne 28 entidades, representando, segundo o capitão, cerca de 1 milhão de pessoas.

Campello acha provável que as mensagens estejam sendo publicadas nos fóruns por alguém da reserva, que não terá muito a perder caso a paralisação se concretize.

"Esse pessoal fica querendo incendiar. Agora, o pessoal da ativa tem uma carreira e tudo que fizerem contrário ao código militar será um risco".

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