"Não tenho onde cortar", afirma Juniti Saito


ELIANE CANTANHÊDE

As Forças Armadas são consideradas o alvo central dos cortes de gastos do governo para compensar a perda da CPMF, mas o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, advertiu que o orçamento da FAB já é apertado: "Não tenho onde cortar", disse ele à Folha ontem, defendendo também o aumento dos soldos.

O governou anunciou na terça a suspensão dos aumentos das três Forças, mas Saito disse que "é apenas uma questão de "timing"" e que não crê num cancelamento: "Eu não acredito nisso, porque o governo reconhece a necessidade de reajuste dos militares. Tenho certeza de que vai sair, de uma forma ou de outra".

Segundo Saito, o aumento seria em duas parcelas e escalonado - menos para quem ganha mais, mais para quem ganha menos - chegando até a 34%. Ele não nega o clima de desapontamento diante do adiamento. Na explicação do comandante, os militares são uma categoria peculiar: "Nós ganhamos mal, nossa remuneração é baixa para o nosso nível de exigência, com dedicação exclusiva, tempo integral, mudanças constantes".

Descartou, porém, a possibilidade de os comandantes tentarem articular diretamente o reajuste: "As três Forças reconhecem o esforço que o ministro Jobim está fazendo. Ele pegou essa bandeira da necessidade do reajuste dos militares e tem sido determinado nisso".

Saito admitiu que todas as áreas serão atingidas, inclusive o reequipamento das Forças Armadas. Ele só discorda da possibilidade de haver cortes mais profundos nas Forças Armadas, que tiveram um aumento de cerca de R$ 3,5 bilhões de 2007 para 2008. A preocupação de Saito é com suprimento e manutenção de aviões, porque, para ele, "há muito tempo temos cortes nessas áreas e, para que a frota opere adequadamente, é fundamental ter peças de reposição, além de combustível, é claro. Como a frota está envelhecida, essas peças demoram até dois anos para chegar".

Os cortes, sejam de que dimensão forem, não afetarão o projeto que é a menina-dos-olhos da FAB: a compra dos jatos F-X, de ataque e defesa. O projeto, de 2003, já venceu. O processo de escolha está praticamente começando do zero, com a expectativa de só estar concluído em 2015, com a chegada dos aparelhos.

No controle de tráfego aéreo, Saito disse que o sistema está sendo renovado e descartou cortes. "É claro que, quanto mais moderno for o equipamento, melhor, mas tudo isso tem um cronograma que já está em execução. Não vejo perdas possíveis aí. O governo, naturalmente, não vai cortar dinheiro aí." Então, onde pode haver cortes? "Em nada. Vamos trabalhar para isso: para não ter corte nenhum".

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