Mulheres de militares voltam às ruas para cobrar reajuste


Ananda Rope e Priscila Belmonte

BRASÍLIA E RIO - A indignação com o governo federal, que até agora não definiu o reajuste dos soldos, levou a família militar às ruas na tarde de ontem. O protesto, batizado de “Dia D”, ocorreu em dez estados do País. No Rio e em Brasília, contou com cerca de 100 pessoas, entre militares da ativa, da reserva, mulheres e filhos. A concentração foi em frente aos comandos militares e ao Palácio do Planalto. Com apitos e faixas, os manifestantes conseguiram chamar a atenção da sociedade e do governo federal.

Secretário-adjunto da Presidência, João Bosco Calais Filho recebeu em seu gabinete a presidente nacional da Unemfa (União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas), Ivone Luzardo, para conhecer a lista de reivindicações. João Bosco se comprometeu a entregar as propostas ao presidente Lula e agendar audiência dele com o movimento.

Ivone disse que, caso o encontro com Lula não aconteça até o fim do mês, a Unemfa impedirá a cerimônia de troca da Bandeira, em março: “Se o presidente não nos receber em fevereiro, a cobra vai fumar”.

Inicialmente, Calais tinha dito que só receberia a Unemfa se as faixas de protesto em frente ao Congresso fossem recolhidas. As mulheres, no entanto, insistiram e ele desistiu da exigência.

Vigília está marcada para março

A Unemfa pretende fazer vigília dos dias 1º a 2 de março, caso não receba posição sobre o reajuste dos soldos. As mulheres reivindicam recomposição total das perdas salariais. Outro pedido é que o presidente Lula encaminhe mensagem oficial ao Congresso Nacional solicitando a votação da Medida Provisória 2.215 (que mexe com os soldos militares).

Ivone Luzardo fez um apelo a todos que puderem comparecer, pedindo que levem mais cinco pessoas. “Não é justo a gente lutar, enquanto as outras pessoas ficam em casa, porque, na hora de receber o aumento, todos vão ganhar”, reclamou mulher de militar de Brasília, que não quis se identificar.

A fisioterapeuta Ana Lídia Carvalho, 42, foi com o filho de 1 ano para a manifestação. “Estou aqui para mostrar a cara da família do militar”, afirmou Ana.

Dedicação integral de familiares

Mãe de cinco filhos e mulher de militar da reserva, a dona-de-casa Jaqueline Freitas, 42 anos, reclamou dos baixos salários e dos sacrifícios que não são recompensados. “O militar estuda durante anos e abdica da família boa parte do tempo. Somos obrigados a viajar com freqüência, o que causa vários transtornos. Imagina trocar cinco filhos de escola?”, argumenta.

Segundo Jaqueline, a situação está muito difícil. “Não consigo fechar um mês sem faltar dinheiro para pagar alguma conta. Acabamos recorrendo a empréstimos consignados”, contou. Atualmente, a família da dona-de-casa tem três financiamentos. A situação da mãe de Jaqueline, que é filha de major da Aeronáutica, é ainda pior: “Ela tem 80 anos e 80% do que recebe são para pagar empréstimos. Não sobra nem para a comida”.

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