Jobim e Chávez fazem acordo sobre o conselho de defesa

Ministro diz que organismo não terá perfil operacional, como propunha o venezuelano

Previsão do brasileiro é que conselho seja aprovado durante a próxima cúpula regional, marcada para acontecer no mês que vem



FABIANO MAISONNAVE – DE CARACAS

Após se reunir ontem com o presidente Hugo Chávez para discutir a criação do Conselho Sul-Americano de Defesa, o ministro Nelson Jobim (Defesa) anunciou um acordo para que o novo organismo não tenha um perfil operacional, como vinha propondo o líder venezuelano.

"Há um acordo com o presidente Chávez quanto à questão de que não seja operacional", disse Jobim na saída do encontro, no Palácio Miraflores. "Há, isso sim, a possibilidade de integração quanto a questões de treinamento e um conceito integral de defesa. Isso distancia muitíssimo da linguagem das velhas alianças clássicas, como a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]."

Em tom otimista, Jobim prevê que o conselho seja aprovado durante a próxima cúpula regional -marcada para o mês que vem- e entre em operação até o final do ano. Até lá, ele pretende visitar quase todos os países da América do Sul -na semana que vem, viajará ao Suriname e à Guiana.

O desenho brasileiro do conselho contradiz a proposta chavista. Batizada de Otas (Organização do Tratado do Atlântico Sul) e lançada em 1999, envolve a criação de uma aliança militar "antiimperialista".

"Se existe uma Otan, por que não pode existir uma Otas, uma Organização do Tratado do Atlântico Sul?", disse Chávez anteontem, durante discurso em Caracas, ao mencionar a chegada de Jobim ao país. Ele não se pronunciou ontem.

"Questão de linguagem"

Em janeiro, durante o programa "Alô, Presidente", Chávez disse que a aliança deveria ser contra os EUA. "Deveríamos trabalhar (...) para formar uma estratégia de defesa conjunta e articular nossas forças armadas, aéreas, o Exército, a Marinha, a Guarda Nacional, as forças de cooperação, os corpos de inteligência, porque o inimigo é o mesmo: o império dos Estados Unidos."

Por outro lado, Jobim, em entrevista ao jornal "Valor" divulgada ontem, rejeitou o termo "Otan do Sul" e disse que o conselho terá como funções a elaboração de políticas de defesa e a participação em operações de paz da ONU. Questionado sobre as divergências com Chávez, Jobim afirmou ontem que "é uma questão meramente de linguagem".

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