Quero ser a Embraer

Como a Helibras, com sede em Minas Gerais, pretende entrar para o clube dos fabricantes de helicópteros de última geração

RICARDO OSMAN

FUNDADA EM 1978, A HELIBRAS, EMPRESA fabricante de helicópteros, situada na cidade mineira de Itajubá, comemorou na semana passada 30 anos com uma excelente notícia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seis de seus ministros foram à festa de aniversário, na segunda 30, realizada em um hangar da empresa, para confirmar uma encomenda que poderá alçar a Helibras, se tudo der certo, ao restrito clube de fabricantes de helicópteros de última geração. As três Forças Armadas contrataram a construção no País dos modernos Super Cougar, os helicópteros de grande porte que acabam de sair das pranchetas dos engenheiros da Eurocopter Company, na França. Essas aeronaves são utilizadas sobretudo no transporte de tropas. Principal acionista da Helibras, a Eurocopter se comprometeu a investir cerca de ? 350 milhões na fábrica de Itajubá para modernizá-la e capacitá-la a produzir os Super Cougar. As Forças Armadas encomendaram 50 aparelhos e o valor da operação, estimado por especialistas, deve chegar a R$ 3 bilhões. "Estamos dando um grande passo na história da indústria aeronáutica do País", diz o presidente da Helibras, Jean-Noël Hardy à DINHEIRO. "Esta nova fase nos permite imaginar um futuro em que teremos um helicóptero genuinamente nacional, a exemplo do que já aconteceu na indústria de aviação." O entusiasmo de Hardy tem suas razões. Com a encomenda das Forças Armadas, foi criado o Pólo Aeronáutico de Helicóptero de Grande Porte, que pretende ser, a seu modo, a Embraer do setor. "O Brasil já faz parte das nações realmente aeronáuticas graças a Embraer", conta Hardy. "Agora, vamos fazer nossa parte."

Inicialmente, será criada uma linha de produção exclusiva para os Super Cougar na Helibras. Por isso, a previsão é de que o quadro de funcionários irá dobrar de tamanho nos próximos quatro anos. De 250 funcionários atuais deverá ir para 500, segundo seu presidente. A receita também deverá dar salto expressivo: dos atuais US$ 99 milhões por ano, oriundos sobretudo das vendas dos helicópteros Esquilo, deverá seguir para o patamar dos US$ 200 milhões. "O faturamento vai mais do que dobrar no período", antecipa Hardy. O grande desafio para se tornar a "Embraer dos helicópteros" é o acesso à tecnologia. Por isso, o plano prevê o repasse de tecnologia da Europa para o Brasil, conforme acertado com o governo federal e o de Minas - este também acionista da Helibras. "Nosso objetivo é incorporar na fábrica brasileira as tecnologias mais avançadas do setor", conta Hardy. "Para que isso aconteça, vamos intensificar o intercâmbio entre funcionários para provocar a troca de experiências." Conforme o definido, os sistemas mecânicos, eletrônicos e de combate dos Super Cougar serão, progressivamente, fabricados no Brasil. Terá prioridade neste cronograma o sistema mecânico. Uma das primeiras peças a serem montadas no País será a caixa de transmissão dos novos helicópteros. Os primeiros aparelhos deverão ficar prontos em 2010, mas serão montados, basicamente, com componentes importados. Ao longo da próxima década, a linha de montagem nacional ganhará força e será capaz de produzir até 50% dos componentes dos Super Cougar, conforme Hardy. "Estamos prevendo também a vinda de vários fornecedores para a região, inclusive fornecedores do Exterior", acrescenta ele.

Para atender a seus objetivos, a empresa conta com a parceria com o Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA), instalado em São José dos Campos. "Esta é uma parceria natural, pois a Helibras nasceu dentro do CTA", conta Hardy. O desenvolvimento de fornecedores locais já começou com a Turbomeca, fabricante de motores. "Temos o compromisso da Turbomeca com o novo projeto", diz o presidente da Helibras. Não foi à toa, portanto, que a festa de aniversário contou com a presença de importante executivo de atuação global: Louis Gallois, presidente da EADS (European Aeronautic Defense and Space Company), dona da Airbus e da Eurocopter. "O Brasil virou um país estratégico para a EADS", disse Gallois a jornalistas na semana passada, e confirmou que a fábrica mineira será um centro de produção de helicópteros para "outras partes do mundo." Pelo visto, a Helibras decolou.

"ANTES DE 2010 ESTARÃO VOANDO OS PRIMEIROS SUPER-HELICÓPTEROS"

O ex-governador do Acre pelo PT e engenheiro Jorge Viana ocupa a presidência do Conselho de Administração da Helibras. Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, coube a ele papel relevante nas articulações que levaram ao surgimento do novo pólo industrial. Viana concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO:

Como surgiu o projeto do novo pólo?

O Brasil iria fazer uma licitação para comprar 26 helicópteros de grande porte, mas isso seria apenas uma compra para reequipar as Forças Armadas. Em vez disso, o Brasil optou pela implantação de um parque industrial de produção de helicópteros. Isso é um ganho.

De que forma isso atende aos interesses do governo?

O pólo faz parte de uma agenda nova, vinculada à política industrial lançada pelo presidente Lula e o ministro Miguel Jorge. Uma política atrelada ao que o ministro Nelson Jobim está fazendo em relação à defesa do País. O projeto uniu todo mundo e é um marco da nova era da produção de helicópteros na América Latina.

Qual a vantagem estratégica do pólo para a Eurocopter?

A Eurocopter precisa fugir do custo europeu de produção. Por isso, parte de suas atividades deve se dar ao redor do mundo. Neste sentido, o Brasil é um dos mais atrativos pólos porque tem mão-de-obra qualificada, desenvolvida graças à Embraer. Avalio que a Eurocopter ganhou uma corrida, uma vez que outras empresas do setor gostariam de vir para cá. Antes de 2010 já estarão voando os primeiros super-helicópteros produzidos no Brasil.

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