Crise no Cáucaso aumenta temor de "novo imperialismo" russo

Europa multiplica esforços para conter conflito envolvendo Geórgia e Rússia. UE deve manter-se unida e firme, opinam observadores. Alemanha cogitada como mediadora nas negociações.


O conflito armado no Cáucaso continua, apesar dos esforços de paz da União Européia. Os russos ocuparam a cidade de Gori, bombas caem nos arredores da capital Tbilisi, assim como em diversos outros pontos da região caucasiana em crise. Nas palavras do presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, as tropas russas dividiram seu país em dois. O número de vítimas alcança os milhares.

"Segundo informações de tropas de paz na Ossétia do Sul, a Geórgia continua a usar de força militar e, tendo isto em vista, não podemos considerar esse documento", declarou um porta-voz do Kremlin nesta segunda-feira (11/08). A negativa veio menos de uma hora após Saakashvili haver assinado o termo de paz proposto pela União Européia.

Meros mediadores

O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, desembarcou na véspera na Geórgia. Ele veio acompanhado pelo presidente em exercício da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Alexander Stubb. Ambos apresentaram a Saakashvili as propostas da UE para aplacar o conflito com a Rússia.

Segundo Kouchner, o presidente Saakashvili aceitou "quase todas as propostas", incluindo o cessar-fogo imediato, acesso médico às vítimas, retiradas controladas de tropas de ambos os lados e eventuais conversações políticas. Para esta segunda-feira está programada a viagem do ministro francês a Moscou para reunião de crise com o presidente Dimitri Medvedev e o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov.

Nesta terça-feira chega à capital russa o presidente da França, Nicolas Sarkozy, na função de atual presidente da UE. Segundo certos observadores, o bloco europeu está fazendo tudo o que pode para obter um acordo de paz sob as atuais circunstâncias, preservando suas relações com os partidos em guerra.

"Novo imperialismo"

Celine Francis, especialista em Geórgia pela Vrije Universiteit Brussel, não crê que, no momento, a UE esteja em condições de considerar ou implementar outros métodos de pressão, como a ameaça de sanções ou mesmo intervenções pacificadoras. "Por enquanto, os europeus devem se ater a seu papel de mediadores. É cedo demais para dizer se a mediação fracassou. Primeiro eles têm que ir a Moscou e tentar convencer os russos."

Outros sustentam que a UE deve manter o tom firme, apesar da crescente atitude de desafio da Rússia e da dependência da Europa em relação às reservas energéticas russas. Segundo Francis, contudo, o sucesso europeu depende de aclamar alguns de seus membros do Leste. A Polônia e os países bálticos – membros da UE desde 2004 – estão especialmente temerosos do que denominam "novo imperialismo" russo, e instaram a UE a rever sua cooperação com Moscou.

"A reunião de emergência da dos ministros do Exterior da UE na quarta-feira será outra boa chance para os europeus demonstrarem sua unidade. Se a UE se apresentar em frente unida, isso pode ser um trunfo ao tratar com a Rússia. No momento, os europeus concordam quanto às prioridades: reconhecimento da integridade territorial da Geórgia, cessar-fogo imediato, retirada das tropas e retorno do status quo", comentou a especialista em assuntos georgianos.

Alemanha na linha de frente dos mediadores

Caso os esforços da UE no sentido de um cessar-fogo encontrem êxito, abre-se a questão de quem intermediará as negociações políticas entre a Rússia e a Geórgia. A instância de mediação tem que ser aceita por ambos os países. Ela também necessita da aprovação das províncias separatistas da Ossétia do Sul e Abkházia, que certamente exigirão voz ativa no acordo.

Ao lado da alternativa apresentada por Kouchner – segundo a qual a UE e a OSCE representariam o papel de mediador –, outra possibilidade é um único país, por exemplo, a Alemanha, dirigir as negociações. Os alemães apresentaram recentemente um esboço de acordo de paz para a Abkházia, com sucesso moderado. Apesar disso, Celine Francis considera as chances de Berlim melhores do que as da UE, como bloco.

"No caso do acordo de paz para a Abkházia, a mediação da Alemanha foi aceita por todas as partes envolvidas, e os russos não rejeitaram sumariamente o esboço. Embora o texto não tenha preenchido todas as exigências russas, ele foi ao menos discutido. Este é um precedente positivo para a Alemanha."

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