Russos identificam deficiências nas suas Forças Armadas

Equipamentos velhos e mau treino, são razões de preocupação


As análises militares sobre a recente campanha na Geórgia ainda estão por fazer e as conclusões que são sempre retiradas após cada conflito só poderão ser tiradas depois de o pó assentar sobre o que foi o campo de batalha.

Mas não sendo ainda possível efectuar análises profundas, vários analistas militares levantaram já várias questões sobre o desenvolvimento do conflito, as tropas envolvidas e as tácticas e meios utilizados pelos dois lados.

Os analistas em Moscovo têm feito várias criticas à capacidade do exército russo e colocado várias perguntas que colocam em causa alguns dos investimentos militares russos mais recentes.

Três principais problemas foram apontados às forças russas.

O primeiro problema e deficiência apontada tem a ver com a fraca capacidade do exército russo para obter informação sobre o inimigo. Segundo fontes em Moscovo, citadas pela imprensa árabe, a Rússia deveria ter capacidade para fazer reconhecimento do terreno e deveria ter capacidade para perceber a tempo a movimentação do exército da Geórgia, se quisesse evitar o conflito, agindo preventivamente em vez de permitir aos georgianos tomar a iniciativa.

Prova desta deficiência russa foi demonstrada no campo do reconhecimento aéreo A Rússia perdeu um bombardeiro Backfire utilizado na função de reconhecimento, quando deveria ter aeronaves não tripuladas com capacidade para o fazer. No entanto esta acção por parte dos russos foi defendida por outras fontes que afirmaram que a utilização uma aeronave como o Tu-22M justificava-se na altura pela dificuldade que apresentaria a utilização de uma aeronave de reconhecimento não tripulada que facilmente poderia ser abatida.

Esta questão está directamente relacionada com o segundo problema apontado e que foi a dificuldade inicial da Rússia em conseguir estabelecer o completo domínio aéreo perante uma força aérea que estava equipada com apenas seis aviões.

A Rússia reconhece a perda de quatro aeronaves, entre as quais um bombardeiro Tu-22M e mais três aeronaves de bombardeamento, mas a Geórgia reclama ter abatido pelo menos 20 aeronaves. Considera-se que qualquer das fontes deverá ter exagerado o numero.

As criticas no caso das aeronaves não são tanto à qualidade das mesmas mas sim à qualidade dos pilotos. Segundo analistas russos não ligados a órgãos de comunicação da Rússia, mais uma vez citados no ocidente, a força aérea russa tem um problema grave com o reduzido numero de horas de voo de cada piloto, que está muito abaixo dos níveis mínimos dos pilotos ocidentais. Esta falta de treino estará na origem dos problemas encontrados no inicio do conflito.

A terceira crítica é feita à organização do exército russo. As forças que entraram na Geórgia foram segundo as mesmas fontes russas, constituídas por tropas mal armadas e isto embora a região do Cáucaso fosse a região mais beneficiada com gastos militares em 2006-2007.

As tropas utilizaram tanques T-72B, alguns deles modernizados e o tanque russo mais utilizado foi o tanque T-62, concebido nos anos 60 e integrado na Brigada Mecanizada do Ministério do Interior que foi enviada para a Geórgia.

Mais ridícula ainda foi a total falta de coordenação das forças russas. O próprio comandante do 58º exército russo foi ferido em combate pelos georgianos e não foi feito prisioneiro por pouco.

Esta falta de coordenação, junta com a falta de qualidade do equipamento, levou a que as operações, embora recorrendo a algumas poucas unidades comandadas de forma eficiente dependessem muito de forças constituídas na sua maioria por pessoal do Serviço Militar Obrigatório que vive em condições muito duras. Esses militares em entrevista às televisões ocidentais confessaram que só queriam voltar para casa. [1]

A grande crítica feita ao exército russo, é a de que a Rússia esmagou Geórgia com a doutrina tradicional do tempo de Estaline e Brejnev, que nunca se baseou na utilização da tecnologia e dos meios disponíveis, mesmo os mais básicos, mas sim na força bruta e no numero avassalador para conseguir a vitória. Os tanques utilizados eram T-72 e T-64 completamente ultrapassados.

As mesmas fontes russas afirmaram que havia militares que nitidamente estavam com medo de seguir nos seus tanques pois eles são conhecidos pela sua fraca protecção, o que já foi demonstrado em variadíssimos conflitos e perante um inimigo melhor armado e determinado, a campanha na Geórgia poderia ter sido uma tragédia.

Também foram detectadas falhas na arma de artilharia, pois a falta de armas modernas de precisão, levaram a um número muito elevado de perdas humanas, que em última instância acabaram por prejudicar a Rússia internacionalmente. Exemplo disso foi a utilização de mísseis de médio alcance SS-21, que podem transportar ogivas nucleares.

Os analistas russos no entanto, foram unânimes em afirmar que o exército russo está neste momento melhor que o que estava há 12 anos atrás. Os gastos militares russos passaram de 7.000 para 40.000 milhões de dólares.

Mas embora os gastos militares tenham aumentado muito, o exército russo recebeu apenas 31 tanques novos em 2006 e em 2007 não chegou a receber 50 unidades to T-90, o tanque que está a substituir os mais antigos T-72 no exército russo. Por isso espera-se que a actual crise na Geórgia e os problemas detectados e identificados sejam utilizados como argumento pelos militares para pedir mais dinheiro para o exército e as forças armadas em geral.

Um dos analistas militares russos afirmou que no ocidente havia uma certa tendência para a dualidade de critérios, porque aconteceu com os russos a mesma coisa que com as tropas americanas que foram para o Iraque, as quais não estavam preparadas para enfrentar situações de roubo e pilhagem generalizadas.

- Se as tropas russas têm grandes deficiências com o treino geral de combate, muito menos preparadas estão quando se deparam com problemas de segurança pública, acrescentou o analista.

[1] - Isto também se notou no comportamento das forças no terreno, embora os russos afirmem que não é correcto afirmar que as tropas russas cometeram qualquer tipo de actividade ilícita, não descartando no entanto que as tropas irregulares da Ossétia o tivessem feito.

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