Guerra começa a ser montada em Natal



Uma guerra com data para começar e terminar. Um combate envolvendo seis nações, mas que não haverá lançamento de bombas e muito menos morte de civis ou militares. O que parece ser um roteiro de filme americano ou de um jogo de vídeo game é na verdade o maior exercício militar da América Latina e que será realizado em Natal, entre os dias 1º e 14 de novembro.

A Operação Cruzeiro do Sul (Cruzex) chega a sua quarta edição, sendo realizada pela segunda vez na capital potiguar, prometendo movimentar o espaço aéreo da Região Nordeste durante duas semanas. Brasil, Argentina, Chile, França, Uruguai e Venezuela farão parte de um mapa dividido em três áreas no Nordeste. Áreas Vermelha, Azul e Amarela. A última, devido a problemas fronteiriços e de interesses econômicos ligados a recursos naturais, como o petróleo, será invadida pelos vermelhos. Caberá então aos Azuis atuarem como uma força de coalizão e garantir a hegemonia dos amarelos.

A simulação ocorrerá durante exercícios militares conjuntos em que 1.600 homens atuando na Base Aérea de Natal irão combater as ‘‘tropas inimigas’’, sediadas na Base Aérea de Fortaleza (CE). Mais de 80 aviões nacionais e estrangeiros vão participar da operação, sendo que as unidades de transporte ficarão estacionadas na Base Aérea de Recife. ‘‘Teremos em Natal 600 militares estrangeiros e 1.000 brasileiros durantes estas duas semanas. Mais de 90% deles ficarão hospedados em hotéis da cidade, porque não há como instalar todos na Base Aérea’’, afirma o comandante da Base Aérea de Natal (Bant), coronel-aviador Carlos Eduardo Alves da Silva. O comandante disse ainda que até o próximo dia 22, a Base Aérea estará pronta para receber o contingente de militares e equipamentos que chegará a Natal para a Cruzex. ‘‘Nossa rede de comunicação incluirá mais de 300 computadores, o que exige um Centro de Controle bem equipado para dar suporte. Além disso, Natal receberá 80 aviões durante o exercício’’, reforça o coronel-aviador.

Entre as aeronaves nacionais e estrangeiras, o natalense poderá ver nos céus, caças e aviões de carga, como F-5, F-16, F-2000, RA-1, R-99, A-29, C-130, KC-137, H-60 E H-1H. Um dos destaques da Cruzex desse ano será a presença de quatro aviões-radares R-99, que ampliarão o alcance dos radares da Base Aérea. ‘‘Outro diferencial desta edição será a presença de helicópteros brasileiros durante a operação’’, destaca. A primeira edição da Cruzex aconteceu em Canoas (RS) em 2002 e envolveu cerca de 50 aviões da Argentina, Brasil, Chile e França. Em 2004, a segunda operação simulada foi realizada em Natal. O número de aviões dobrou e, em vez de chilenos, contou com a participação de militares venezuelanos. Peru, Uruguai e África do Sul participaram como observadores. A última edição foi realizada em Anápolis (GO) e em Campo Grande (MS) em 2006 e ficou marcada por um trágico episódio: um avião da Força Aérea Peruana sofreu um acidente logo após decolar do Aeroporto Internacional Jorge Teixeira, em Porto Velho (RO), com destino a Anápolis, onde se juntaria aos demais participantes. Os dois pilotos do avião A-37 morreram.

MISSÃO

Apesar de ser uma “guerra virtual”, onde não há confrontos diretos, o comandante da Bant ressalta que a Operação Cruzeiro do Sul é muito importante para as forças aéreas dos países participantes. ‘‘A Cruzex é fundamental para que todo o sistema de comunicação da Força Aérea esteja preparado para conduzir uma operação de guerra’’. De acordo com o comandante, os enfrentamentos simulados baseiam-se em conflitos de baixa intensidade, com base no modelo de operação empregado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Para garantir a segurança do espaço aéreo e evitar qualquer problema com o tráfego comercial, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) vai disponibilizar toda a estrutura de radares, equipamentos de comunicação e profissionais. ‘‘E para não atrapalhar o espaço aéreo de Natal vamos direcionar nossas ações aéreas para o município de Maxaranguape, que será a capital da Área Azul. A mesma preocupação ocorre em Fortaleza, que corresponde a área Vermelha. A capital desta área será a cidade de Quixadá’’, diz o coronel-aviador Carlos Eduardo. Além disso, um hospital de campanha capaz de realizar atendimentos críticos e cirurgias será montado na Base Aérea de Natal, onde profissionais da área de saúde atenderão eventuais emergências.

Durante a operação, estagiários de comunicação da UFRN, em conjunto com profissionais do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER), trabalharão na produção de notícias e na assessoria de imprensa, além de alimentar o site oficial da operação. ‘‘Tudo isso ocorrerá de maneira simultânea, conjugados por um sólido aparato de tecnologia de informação’’.

Portões abertos

Um dos pontos altos da Cruzex, pelo menos para os civis, é o dia em que a Força Aérea Brasileira abre os portões para que o público possa visitar as instalações da Base Aérea de Natal e as máquinas presentes. Nesta edição, a operações Portões Abertos será realizada no sábado, 8 de novembro. Durante este dia, os visitantes poderão conferir de perto toda a tecnologia e força dos caças e aviões de carga que estarão em Natal. ‘‘Será também neste final de semana que os participantes da Cruzex poderão fazer turismo por Natal e conhecer a cidade. Para o público que vem à Base Aérea, este ano teremos uma novidade: os visitantes poderão chegar bem próximo aos aviões’’, explica o comandante. Outro atrativo para o dia de portões abertos será a apresentação da Esquadrilha da Fumaça.

Memória Cruzex

O primeiro exercício Cruzex foi realizado em Canoas, no sul do Brasil, em 2002 e foi a primeira vez em que os procedimentos da OTAN foram utilizados em um exercício combinado sul-americano. A primeira edição do exercício contou com a presença de Forças Aéreas da Argentina, Brasil, Chile e França, com aproximadamente 50 aeronaves. Dois anos depois, em novembro de 2004, o Teatro de Operações da Cruzex 2 foi modificado para o Nordeste, sendo a cidade de Natal a sede do exercício, que contou com Argentina, Brasil, França e Venezuela como participantes e Peru, Uruguai e África do Sul como observadores. Em 2006, o cenário envolvia a cidade de Anápolis, como sede da coalizão e Campo Grande, como base da força inimiga.. Na Cruzex 3 participaram cerca de 1.500 militares e 100 aeronaves, oriundos da Argentina, Brasil, Chile, França, Uruguai e Venezuela. Bolívia, Colômbia e Paraguai fora observadores. A última edição foi registrada por mais de 125 profissionais de imprensa, sendo 16 jornalistas estrangeiros.

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