Avanço de rebeldes faz ONU e Exército recuarem no Congo

Grupo diz ter tomado cidade e cercado capital provincial; 30 mil civis deixam região



DA REDAÇÃO

As forças de paz da ONU e o Exército da República Democrática do Congo recuavam ontem de suas posições no extremo leste do país à medida que rebeldes liderados pelo general renegado Laurent Nkunda se aproximavam de Goma. Cerca de 30 mil civis chegaram em questão de horas ao campo de refugiados de Kibati, da ONU, 10 km ao norte da cidade.

À noite, o porta-voz dos rebeldes, Bertrand Bisimwa, afirmou à Reuters que a cidade de Rutshuru, a 100 km de Goma, havia sido tomada. "A situação é muito séria. Teremos que sair daqui", tinha dito o comandante militar da região algumas horas antes. Da capital, Kinshasa, o porta-voz da Monuc (missão da ONU no país), Alan Doss, não confirmou a informação.

Segundo Bisimwa, os rebeldes cercaram Goma, que, com 600 mil habitantes, é a capital da província de Kivu do Norte. A informação também não foi confirmada, mas tropas da Monuc realizavam ontem operações aéreas nas imediações da cidade para impedir o avanço dos homens de Nkunda e enfrentavam artilharia antiaérea.

O comissário da União Européia de ajuda humanitária, Louis Michel, chega hoje para uma "visita de urgência". Na segunda, em meio a ataques à Monuc de civis frustrados com a sua incapacidade de protegê-los, o comandante da missão, o espanhol Vicente Díaz de Villegas, havia renunciado.

O conflito no ex-Zaire já dura 14 anos, entre dois períodos de conflitos abertos (1996-1997 e 1998-2003) e frágeis acordos de cessar-fogo, o último deles de janeiro, e remete ao genocídio de 1994 de Ruanda. Na ocasião, cerca de 1 milhão de ruandeses, a maioria da etnia tutsi, foi morta por radicais hutus.

Após guerra civil em Ruanda em que os tutsis tomaram o poder, hutus implicados na matança atravessaram a fronteira e se reorganizaram em milícias no leste congolês. O tutsi congolês Nkunda acusa o governo e o Exército de apoiarem os hutus no país. Já o Congo acusa Ruanda de apoiar os rebeldes.

Pelo cessar-fogo, rompido em agosto, a Monuc, com 17 mil homens, deveria patrulhar uma zonatampão na região conflagrada, que Nkunda diz ter sido entregue às milícias. Estima-se que 250 mil tenham se refugiado desde então. Rebeldes, militares e mesmo soldados da ONU são acusados de promover abusos contra a população.

O Congo, ex-colônia belga com 66 milhões de habitantes, é um dos países mais ricos em recursos naturais da África, incluindo a região leste, que o governo de Joseph Kabila diz ser alvo da cobiça de Ruanda. Entre 1998 e 2003, estima-se em 5,4 milhões os mortos, sobretudo por fome e moléstias.

Com agências internacionais

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