Militar admite falta de embarcações para proteger plataformas
Klécio Santos, Brasília
Responsável pelos 4,5 milhões de quilômetros quadrados de águas jurisdicionais brasileiras, o Comandante da Marinha, almirante Julio de Moura Neto, teme pela segurança das plataformas de petróleo na Bacia de Campos.
Em entrevista a Zero Hora, o almirante admitiu a falta de embarcações para proteger as plataformas, defendeu a duplicação da frota de navios-patrulha e a compra de submarinos franceses como soluções emergenciais.
– O governo tem plena consciência da necessidade da presença da Marinha junto às plataformas de petróleo.
Ele não considera que as plataformas brasileiras estejam vulneráveis. Contudo, diz que para garantir a segurança desses pontos é necessário que a Marinha faça vigilância permanente dos locais, o que não tem ocorrido.
O almirante não acredita que esteja ocorrendo uma possível corrida armamentista na América do Sul, fato que chegou a ser ventilado depois da passagem da 4ª Frota americana pela região. Ele diz que cada país está cuidando para ter os meios de que necessita para cumprir sua missão.
– A política de defesa brasileira é de dissuasão. Como não temos inimigos claros e definidos, temos de mostrar capacidade de nos defender – afirma.
“Se continuar assim, não haverá mais navios”
Consciente de que a presença da Marinha nas plataformas da Petrobras não é constante, o Comandante da Marinha, almirante Julio de Moura Neto, diz que gostaria de fazer a segurança do local 365 dias por ano. Leia a entrevista.
Zero Hora – A frota naval da Marinha está degradada?
Almirante Julio Moura Neto – Isso é fato. Há mais de 10 anos, os recursos da Marinha têm sido insuficientes, com uma degradação paulatina nos navios, nas aeronaves, nos fuzileiros navais. A partir de 2006, começou uma recuperação. Ainda assim, um orçamento pouco maior não resolve. Precisamos de um programa de reaparelhamento.
ZH – Quanto dessa frota está degradada?
Moura Neto – Nos últimos anos, nós demos baixa em 20 navios e só incorporamos 10. Se esse processo continuar assim, vai chegar um ponto em que não haverá mais navios. A prioridade são os submarinos.
ZH – O que já está sendo feito?
Moura Neto – Temos cinco submarinos convencionais sendo modernizados. Estamos em negociação com a França para construir quatro novos convencionais e, no futuro, o de propulsão nuclear. Será o Scorpene, mas a parte nuclear é toda feita com tecnologia brasileira. Precisamos aumentar a quantidade de navios-patrulha. Temos 27, todos funcionando, mas precisamos de mais 27 num prazo de oito anos.
ZH – O repasse dos royalties do petróleo seria a solução?
Moura Neto – É uma solução possível. Em dezembro de 2007, tínhamos na reserva de contingência da Marinha R$ 3,2 bilhões em royalties. Esse ano, a previsão é de R$ 700 milhões contingenciados. Para os navios-patrulha, os royalties seriam a solução. Também estamos discutindo com a Petrobras um sistema a ser estabelecido nas próprias plataformas e que nos alerte sobre a aproximação de outros navios, para que um navio-patrulha vá lá verificar.
ZH – O senhor acha que o país está vulnerável no momento em que se descobre novas reservas de petróleo?
Moura Neto – Precisamos ter mais navios. As plataformas não estão vulneráveis, mas para que eu possa garantir a segurança delas teríamos de estar permanentemente lá, e não estamos.
ZH – O submarino nuclear sempre foi alvo de polêmica, chamado até de desperdício. O projeto está garantido?
Moura Neto – Estamos avançando bastante no programa nuclear, cuja finalidade é ter o reator com tecnologia totalmente nacional. Esse reator é o protótipo do que será colocado no submarino e deve estar pronto em seis anos. Acho o submarino importante, sempre oculto e um fator de dissuasão, sempre respeitado.
ZH – Como o senhor vê a movimentação da 4ª Frota americana pela região?
Moura Neto – Não há nenhuma paranóia e foi uma coincidência ela ser reativada na mesma época da descoberta dos novos campos de petróleo. Até mesmo porque o governo americano tem dito que respeitará os instrumentos jurídicos da convenção das Nações Unidas sobre os direitos de mar territorial.