EUA: militares suspeitos de fraude no Iraque

Caso de corrupção e uso indevido de US$ 125 bi para reconstrução do país pode ser o maior da História americana

Patrick Cockburn

SULAIMANIYAH, Iraque. No que pode se tornar a maior fraude da História dos Estados Unidos, autoridades americanas começaram a investigar o papel de militares de alta patente no uso indevido de US$ 125 bilhões destinados à reconstrução do Iraque após a queda de Saddam Hussein. É possível que nunca se descubra a soma exata que desapareceu, mas um relatório do Inspetor Geral dos EUA para a Reconstrução do Iraque (Sigir, na sigla em inglês) sugere que ela pode exceder US$ 50 bilhões — tornando-a um roubo ainda maior do que o esquema de pirâmides de Bernard Madoff.

— Acredito que o verdadeiro saque após a invasão foi feito por funcionários americanos e empreiteiros, e não por pessoas das favelas de Bagdá — disse um empresário envolvido com o Iraque desde 2003.

Auditores descobriram que US$ 57,8 milhões foram enviados em notas de cem para o empreiteiro responsável pelo centrosul iraquiano, Robert J. Stein Jr, que foi fotografado com o monte de dinheiro. Ele é um dos poucos americanos que devem ser condenados por fraude e lavagem de dinheiro.

Apesar das altas somas para a reconstrução, não há guindastes visíveis em Bagdá, exceto pelos utilizados na nova embaixada dos EUA. Líderes iraquianos estão convencidos de que o roubo ou desperdício do dinheiro de ambos os lados só poderia acontecer se funcionários americanos estivessem envolvidos.

Em 2004 e 2005, o orçamento de US$ 1,3 bilhão saiu do Ministério da Defesa iraquiano para comprar helicópteros soviéticos de 28 anos, obsoletos demais para voar, e veículos blindados que podiam facilmente ser perfurados por balas de fuzis. Iraquianos foram responsabilizados pelo roubo, mas militares americanos controlavam grande parte do Ministério.

Em janeiro, investigadores requisitaram a ficha bancária do coronel Anthony B. Bell, que era responsável por contratos para a reconstrução em 2003 e 2004.

Segundo o “New York Times”, estão sendo investigadas também as atividades do tenentecoronel Ronald W. Hirtle, da Força Aérea, responsável por contratos em Bagdá em 2004. Os dois alegam inocência.

Dinheiro era entregue em caixas de pizza

O fim do governo Bush deu novo impulso às investigações. No início da ocupação, republicanos bem relacionados foram premiados com empregos no Iraque. Um jovem de 24 anos de uma família republicana foi posto no comando da bolsa de valores de Bagdá, que teve que fechar porque ele teria esquecido de renovar o aluguel do prédio.

Estão sendo reexaminadas informações dadas por Dale C. Stoffel, que foi assassinado em Taiji, ao norte de Bagdá, em 2004. Stoffel, um negociante de armas, havia obtido imunidade após dar informações sobre uma rede de suborno ligando empresas e funcionários americanos na Zona Verde de Bagdá. Ele contou que propinas de milhares de dólares eram entregues em caixas de pizzas enviadas a funcionários americanos.

Até o momento, americanos que foram processados estavam envolvidos com casos menores de corrupção.

Ministros iraquianos admitem a corrupção desenfreada no governo. Mas também há forte suspeita da cumplicidade de americanos ou da escolha de testas-de-ferro iraquianos. Em muitos casos, empreiteiros sequer começaram ou terminaram as obras. O fracasso em fornecer eletricidade, água corrente e sistema de esgoto durante a ocupação americana foram cruciais para afastar os iraquianos do regime pós-Saddam.

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