Exército critica plano de defesa e vê comandos enfraquecidos

Textos na internet falam em "hipertrofia" do ministério



ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Em sua primeira reunião do ano, o Alto Comando do Exército, que reúne os generais de quatro estrelas, o mais alto posto da carreira, criticou a Estratégia Nacional de Defesa, apresentada no Planalto no final de 2008, por supostamente fortalecer o Ministério da Defesa, em detrimento dos comandos das três Forças Armadas.

Houve consenso contra dois pontos do plano: a criação de um Estado-Maior que representaria as três Forças e trabalharia junto com a pasta da Defesa, tirando, segundo os militares, autonomia de cada Estado-Maior já existente em Exército, Marinha e Aeronáutica; e a prerrogativa do ministro da Defesa de indicar os comandantes das três Forças.

A Estratégia Nacional de Defesa, elaborada pelos ministros Nelson Jobim (Defesa) e Roberto Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), reúne ações para tentar suprir as debilidades do sistema de defesa brasileiro, carente de recursos.

Textos críticos ao plano circulam na internet desde domingo e são atribuídos a três generais, sendo um deles Luiz Cesário da Silveira Filho, ex-comandante militar do Leste, que fez a exposição considerada "mais dura" ontem. Cesário entrou para a reserva por tempo/idade. Sua despedida foi à noite, no Clube do Exército. Ele era comandante no Rio quando um sargento entregou três moradores de morro a traficantes.

Cesário classificou o plano de "utópico" e ironizou: "Vai haver dinheiro para tudo isso?".

Ao saber das críticas, Jobim telefonou para o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, que resumiu a reunião como uma análise do plano no "foro adequado", em que o texto foi principalmente elogiado, apesar das críticas.

Na internet, o plano é ridicularizado com a sigla END (fim, em inglês) e criticado por tentar "ressuscitar antigos costumes de ingerência política nos negócios internos das Forças Armadas". Os textos pedem ainda prevenção contra a "hipertrofia do Ministério da Defesa" e a "introdução de cotas (sociais, raciais, etc.)" no acesso às academias militares.

As críticas à Estratégia Nacional de Defesa ocorrem no momento em que está sendo discutida uma revisão da Lei da Anistia, para permitir o julgamento de crimes de tortura cometidos no regime militar.

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