27 anos depois, as lições táticas do ataque ao HMS Sheffield



Galante

Na manhã de 4 de maio de 1982, o destróier Type 42 HMS Sheffield, da Royal Navy, foi atingido mortalmente por um míssil AM39 Exocet, disparado por um jato Super Étendard da Armada Argentina.

O navio escolta britânico atuava como “piquete-radar” e era responsável pela defesa antiaérea de área de unidades maiores da Força Tarefa britânica, que tinha como objetivo a retomada das Ilhas Malvinas/Falklands.

Mesmo sendo equipado com um radar aéreo de longo alcance e mísseis antiaéreos Sea Dart com alcance de pelo menos 40km, o Sheffield não conseguiu detectar a aproximação dos Super Étendard, nem se proteger do míssil Exocet. O fantasma da vulnerabilidade da escolta britânica ainda está presente hoje, quase 30 anos depois, apesar dos avanços tecnológicos, devido à uma limitação natural: a curvatura da Terra.

A curvatura da Terra continua sendo uma limitadora do alcance dos radares dos navios, que possuem uma zona cega à baixa altura, a partir da linha do horizonte. Essa vulnerabilidade também está presente nos radares terrestres e é usada por pilotos de aviões do tráfico, por exemplo, para escapar à detecção.

O ataque ao Sheffield

A tática argentina para atingir vasos importantes da Royal Navy empregava aeronaves de patrulha marítima, como o P-2 Neptune, que repassavam os contatos por rádio, às aeronaves de ataque.

No ataque ao Sheffield, um Neptune realizou a função de esclarecimento marítimo, mudando de altitude constantemente e aproveitando a zona cega dos radares britânicos para efetuar apenas algumas varreduras com seu radar, a fim de não alertar os sistemas MAGE (ESM) dos navios britânicos.

Dois Super Étendard decolaram da Base Aérea de Rio Grande armados com um Exocet cada, realizando reabastecimento em voo com um KC-130 Hercules. A operação foi apoiada por jatos Dagger, realizando CAP a 7.000m, armados com mísseis ar-ar e um Lear Jet, atuando em missão de diversão.

Após o reabastecimento, os Super Étendard continuaram nas coordenadas dadas pelo Neptune, voando em 4.500 metros. Depois, desceram para entrar na zona morta dos radares britânicos, evitando a detecção.

Quando os jatos estavam voando rente ao mar, perto das coordenadas especificadas pelo Neptune, receberam uma mensagem da aeronave de patrulha, confirmando um grande alvo no meio e dois menores nas coordenadas 52º33′ sul e 57º40′ oeste e outro alvo mediano, a 52º48′ sul e 57 º31′ oeste. Ou seja, o último navio estava distante dos outros a cerca de 30 milhas. Os jatos prosseguiram para as coordenadas sempre “colados” na água, elevando-se a poucos metros a mais para realizar algumas varreduras com seu próprio radar de busca, a fim de localizar os alvos, sem alertar os equipamentos MAGE/ESM britânicos. Ambos os pilotos detectaram um alvo grande e três medianos, travaram seus Exocet no alvo maior e quando estavam a cerca de 50km de distância, lançaram os mísseis. Ver no mapa a seguir, as trajetórias das aeronaves argentinas e os horários em que os contatos foram detectados pelo Neptune.

Os britânicos declararam mais tarde que os argentinos tinham acertado o HMS Sheffield com o Exocet e um outro míssil tinha passado pela proa da fragata Yarmouth. O Exocet, entre suas muitas habilidades, pode mudar seu curso, caso não encontre o alvo e também possui uma espoleta de proximidade para fazê-lo detonar, se passar muito perto de um navio. Estas e outras características do míssil fizeram com que os argentinos pensassem ter acertado também um outro navio maior, como o porta-aviões HMS Hermes, mas isto foi negado pelos ingleses.

Tática continua válida

Quase três décadas depois, a tática empregada pelos argentinos de combinar REVO, aeronaves de patrulha marítima, aeronaves de diversão e aeronaves de ataque dotadas de mísseis antinavio, continua perfeitamente válida, para o enfrentamento de forças de superfície. Muitas contramedidas embarcadas foram desenvolvidas desde então, como as aeronaves de alerta aéreo antecipado (AEW), sistemas MAGE/ESM mais sensíveis e sistemas CIWS, de defesa anti-míssil. Mas, mesmo assim, ataques de saturação por mísseis antinavio podem furar as defesas de forças-tarefa, atingindo alvos de maior valor.

No caso do Brasil, chega a ser absurdo o fato de nossa Força Aérea até hoje não dispor de um só míssil antinavio em seus estoques, apesar de possuirmos uma excelente aeronave de ataque, o AMX.

A Marinha do Brasil, por sua vez, possui mísseis AM39 Exocet numa quantidade extremamente limitada, repetindo o erro da Armada Argentina quando começou a Guerra das Malvinas: só tinha 5 ou 6 mísseis disponíveis.

Por outro lado, para a defesa do nosso único navio-aeródromo, será necessário a aquisição de navios dotados de defesa antiaérea de área/antimíssil e aeronaves AEW, tanto para o alerta antecipado de ataques de mísseis antinavio, quanto para a indicação de alvos aos jatos AF-1 Skyhawk. A adoção de mísseis antinavio para os AF-1 também é imperativa, a fim de proporcionar um aumento sensível na capacidade de ataque do NAe São Paulo.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem