Coreia do Sul e EUA elevam alerta

ONU perto de uma resolução. Norte adverte que qualquer incidente serviria de estopim

SEUL – O Globo

Um dia depois de a Coreia do Norte afirmar que poderia atacar o vizinho, as tropas da Coreia do Sul e dos Estados Unidos na região entraram ontem em seu alerta mais alto em três anos, aumentando os voos de reconhecimento, o uso de satélites espiões e de análises de inteligência para enfrentar o que autoridades classificaram como uma grave ameaça. A medida foi a reação mais recente a uma cadeia de ações e provocações desencadeadas pelo teste nuclear norte-coreano de segunda-feira e pelo lançamento de seis mísseis de curto alcance. Reforçando sua retórica belicista, para o governo nortecoreano a guerra “é uma questão de tempo”.

O Ministério da Defesa da Coreia do Sul afirmou que as tropas aliadas, incluindo os 28.500 soldados americanos que apoiam os 670 mil militares locais, elevaram o seu Watch Condition do nível 3 para o 2 (numa escala de cinco onde um é o mais alto). A última vez em que o nível de alerta esteve tão alto foi em 2006, quando o Norte realizou o seu primeiro teste nuclear.

— O Watchcon 2 entrou em efeito às 7h15m (hora local). A vigilância sobre o Norte será aumentada, com maior mobilização de aeronaves e pessoal — disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Won Tae-jae.

Já a mídia estatal norte-coreana advertiu ontem que “mesmo o menor confronto acidental poderia levar a uma guerra nuclear”. “É uma questão de tempo que um estopim detone uma guerra”, afirmou o jornal oficial “Minju Joseon”.

Uma resolução para sufocar Forças Armadas

Em Nova York, os EUA e o Japão fizeram circular entre os membros do Conselho de Segurança da ONU um esboço de uma resolução que “condena nos mais fortes termos o teste nuclear (da Coreia do Norte) em 25 de maio, numa flagrante violação” da proibição de 2006, segundo trechos que vazaram. O presidente Barack Obama já tachou os testes nortecoreanos de “violações gritantes” da lei internacional. O texto do rascunho começaria ontem a ser discutido pelos cinco membros permanentes, mais Japão e Coreia Sul, que definirão as novas medidas. Só então circulará pelos 15 membros do conselho. O embaixador russo, Vitaly Churkin, disse haver um grande consenso sobre o que a resolução deve incluir, mas admitiu que chegar a um acordo era complicado e que havia muitas sugestões.

— Seriam necessárias dez resoluções para incluir todas — declarou. A grande questão é até que ponto a China, maior aliado dos nortecoreanos, deixará as sanções chegarem. O governo chinês preferiria reforçar as medidas de 2006 a criar novas no texto que deve ser votado no início da semana.

Diplomatas dizem que as propostas em discussão incluem aumentar as empresas na lista negra por ajudar os programas balístico e nuclear da Coreia do Norte, expandir o embargo de armas e restringir as operações financeiras e voos ao país. Segundo funcionários do governo americano, os EUA poderiam pressionar a China a cancelar voos no espaço aéreo norte-coreano para evitar a transferência de material nuclear.

— Queremos secar seus recursos para as Forças Armadas — confidenciou um diplomata ocidental.

Uma comissão liderada pelo subsecretário de Estado dos EUA, James Steinberg, partiu ontem rumo à Ásia, revelou a rede CNN. Segundo a emissora, Steinberg vai a Tóquio, Pequim, Seul e Moscou discutir como o chamado Grupo dos Seis deverá lidar com a Coreia do Norte.

Em Seul, o jornal “Chosun Ilbo” informou que o governo preparou planos de contingência para o caso de um ataque com artilharia e mísseis perto da fronteira marítima em disputa na costa ocidental.

Segundo informações à noite, navios de pesca chineses já deixaram a área. O local foi cenário de choques entre as duas Coreias que resultaram em mortes em 1999 e 2002.

Aumento de exercícios militares na zona costeira

O Ministério da Defesa sul-coreano não quis confirmar a mobilização de navios de guerra. Mas uma fonte militar contou que nos últimos meses a Coreia do Norte aumentou os treinamentos de unidades de artilharia na zona costeira próxima a ilhas sul-coreanas. A Coreia do Norte anunciou o rompimento unilateral do armistício de mais de 50 anos na quarta-feira, após a Coreia do Sul aderir a uma iniciativa contra o tráfico de armas de destruição em massa — visto pelo vizinho como uma declaração de guerra. O governo norte-coreano advertiu que se alguma embarcação sua for detida, reagirá. Além disso, o regime comunista acusa os EUA de se prepararem para atacá-lo. Nos últimos 15 anos, o país renunciou à trégua em cinco ocasiões. Já o comando conjunto das forças americanas e sulcoreanas afirmou que continua comprometido com o armistício de 1953 — que nunca foi trocado por um tratado de paz.

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