'A missão nada tem a ver com a Amazônia'

Subsecretário-assistente de Defesa dos EUA diz que acordo militar com a Colômbia terá foco nas Farc e no narcotráfico

WASHINGTON. Ex-professor de estratégias de segurança nacional e estudos latino-americanos do Colégio de Guerra da Universidade de Defesa Nacional dos EUA, Frank O. Mora é hoje subsecretário-assistente para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Defesa e um dos principais responsáveis pelas estratégias militares do país nas Américas. Também faz parte da equipe que negociou o acordo militar entre EUA e Colômbia, que tanta polêmica vem causando. Alegando que há muitos mal-entendidos a respeito do tema na região, Mora afirma que a missão americana na Colômbia - o Plano Colômbia - se manterá focada no combate ao narcotráfico e ao terrorismo. O subsecretário não quis comentar os temores dos vizinhos da Colômbia, mas afirma que nem os EUA nem a Colômbia podem conversar sobre a renovação de um acordo militar que ainda está em andamento. E disse que não é intenção dos EUA aumentar a presença de militares na Colômbia e que os números devem se manter ao redor dos cerca de 300 militares hoje em território colombiano, apesar da autorização do Congresso para que o Plano Colômbia envolva até 800 militares. E frisou: a missão não tem nada a ver com Amazônia.

Gilberto Scofield Jr. – O Globo

O prolongamento do acordo militar que está sendo fechado entre os Estados Unidos e a Colômbia vem causando mal-estar entre os países latino-americanos e há muita desconfiança e informações truncadas...

FRANK MORA: O acordo não deve ser fechado agora e acho que as negociações ainda levarão algumas semanas. Mas há muito mal-entendido, como você mesmo disse. Não é justo dizer que não há transparência nesta história porque eu não conheço o caso de nenhum país do mundo que se apresse a dar detalhes de um acordo militar que ainda está sendo negociado com seu parceiro. Além disso, a renovação do acordo tem poucas novidades de fato. O novo acordo apenas suplementa e aperfeiçoa as práticas e atividades que já vêm acontecendo hoje em território colombiano. O que deverá haver de novo é o investimento, já aprovado pelo Congresso, de US$46 milhões na melhora e renovação da base militar de Palanquero, que manterá as suas mesmas funções atuais.

Mas teme-se que a missão possa evoluir para ações em países vizinhos...

MORA: A missão não muda. Sempre foi e sempre será contra o narcotráfico e contra o terrorismo, dois assuntos ligados diretamente às atividades das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), especialmente. Qualquer equipamento militar ou pessoal permanecerá em território colombiano somente.

O senhor pretende aumentar o número de militares em território colombiano?

MORA: Temos hoje cerca de 300 militares na Colômbia, é uma média desde o início do plano. O Congresso nos autoriza a enviar para o país até 800 militares, mas não é nossa intenção aumentar este efetivo. Bem, amanhã você descobre que estamos com cerca de 400 militares em solo colombiano e vai me cobrar isso. Pode ser que tenhamos que aumentar temporariamente o pessoal por uma eventualidade, mas não é esse o objetivo e devemos manter a média de 300 militares.

É verdade que o acordo incluirá a ampliação das bases militares na costa para a atracação de navios militares americanos de forma regular no continente?

MORA: Todos os aviões e navios militares que param na base de Barranquilla são usados exclusivamente para transporte de material militar, equipamento e soldados no trabalho de suporte técnico para a missão, como os veículos semi-submersíveis para atividades em rios. Isso não vai mudar.

Muitos analistas políticos americanos acharam o episódio um erro de relações públicas e que o Pentágono poderia ter conversado informalmente com os países da região, incluindo o Brasil...

MORA: Eu não quero aqui julgar a estratégia de comunicação do Pentágono. Mas como já disse, temos uma boa relação com a Colômbia e não seria conveniente conversar com outros países sobre um acordo militar na medida em que estamos negociando este acordo.

Mas a presença militar dos EUA na América do Sul é um tema sensível. Há muita especulação, por exemplo, sobre uma possível ampliação das ações na Amazônia colombiana para a Amazônia brasileira...

MORA: Eu quero deixar uma coisa bem clara para os brasileiros: essa missão não tem nada a ver com a Amazônia brasileira. Tudo o que se discute entre o Pentágono e os militares colombianos é sobre Colômbia. É somente sobre a Colômbia.

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