Rato-herói caça minas terrestres

Marcelo Leite – Folha de São Paulo

A ideia era tão boa que à primeira vista acreditei ser mentira: ratos treinados para farejar minas terrestres e orientar homens treinados em desativá-as. O nome de fantasia, melhor ainda: HeroRAT, ou Rato-Herói. Dormi em cima da informação até arranjar um tempinho para confirmá-la, o que fiz hoje.

Tudo começou com um panfletinho da organização Apopo que recebi em Lindau, na Alemanha, durante uma reunião de prêmios Nobel em julho. Ela foi fundada pelo belga Bart Weetens, da Universidade de Antuérpia, com base na idéia de usar roedores para ajudar a resolver o problema de minas terrestres na África. Era um panfleto pedindo doações, na linha "adote um rato e salve crianças africanas arriscadas de perder a perna ou a vida". Nada consegui apurar durante a reunião, mas guardei o papel.

Um movimento tectônico inesperado sobre minha mesa trouxe-o à tona e de volta à atenção. Meia hora de pesquisa na internet revelou que é sério. Weetens treina os ratos africanos do gênero Cricetomys (que têm o tamanho de um gato pequeno) na Tanzânia, em colaboração com a Universidade Agrícola Sokoine, e os emprega para retirar explosivos de campos minados em Moçambique. Há uma série de vídeos no YouTube.

Por que usar ratos, e não os tradicionais cães? Bem, eles são mais leves, o que diminui a chance de detonar as minas, que são acionadas pelo peso. São fáceis de encontrar na África e baratos de criar. Seu faro é tão ou mais apurado que o canino. Os tratadores lhes dão nomes e carinho, transformando-os em verdadeiros bichos de estimação (essa bonita expressão do português está desaparecendo, em favor da colonizada palavra "pet").

No laboratório, os roedores são treinados a andar em linha reta, presos a um fio-guia, e a arranhar o chão quando farejam a substância explosiva TNT, um cheiro previamente associado com a recompensa (banana, por exemplo). No campo minado, a área é sistematicamente dividida com uma grade de fios-guia, que o bicho passa a percorrer. Quando cavouca o chão, o tratador marca o lugar. Outra técnica usada é levar para o laboratório amostras de terra retiradas de 100m em 100m no percurso de uma estrada em construção, por exemplo.

Não é sensacional? Depois descobri que na página da Apopo há uma série de reportagens em órgãos da imprensa internacional sobre a experiência.

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