Jobim reafirma favoritismo francês

Jornal do Brasil
 
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, admitiu ontem que o governo brasileiro está com as negociações mais avançadas com a França para a compra de 36 aviões caça do que com os demais países que ofereceram as aeronaves ao Brasil – Estados Unidos e Suécia. Apesar de reconhecer o favoritismo da França, Jobim reafirmou que o processo para a escolha da empresa fornecedora das aeronaves ainda está em curso – mas disse que o governo espera apenas uma posição da empresa francesa Dassault sobre as condições para concretizar a venda dos aviões.

– O problema é que agora há disputa acirrada e o importante é que há uma decisão política do presidente da República de ampliar a sua aliança estratégica com a França. Nós temos vários entendimentos com a França. Para que essa decisão política não possa ser executada, vai depender da Dassault. E também das outras, porque você sempre tem comparativo de tudo – analisou o ministro.

Jobim disse que o Brasil pretende conversar com a Dassault para verificar "até onde eles vão" nas propostas apresentadas pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. – Eu creio que eles cumprirão. E aí vamos ver o que vai acontecer.

O ministro também voltou a colocar dúvidas sobre o grau de disposição dos Estados Unidos para transferir tecnologia. Jobim disse que os americanos precisam ser mais claros. A principal alegação brasileira a favor dos caças Rafale, da Dassault, é que a França se compromete a transferir tecnologia – mas a Embaixada dos EUA divulgou nota na quarta-feira reafirmando que o país aprovou "a transferência de toda a tecnologia necessária" caso o Brasil opte pelo F-18, da Boeing.

– Tem que saber o que os americanos entendem da palavra necessária. Necessária deles ou nossa? E já há posição francesa no sentido de transferência irrestrita. Mas isso tem que ser avaliado pela comissão que vão nos dar os dados – detalhou Jobim. O ministro disse que não há prazo para a conclusão das negociações sobre a escolha das aeronaves, mas disse esperar que os aviões sejam comprados até o final deste ano. – Não tem como fixar prazo. Espero que possa ser este ano, talvez seja este ano.

Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, negou que tenha sido um "erro" do governo e do presidente Lula anunciar antecipadamente a preferência pelas aeronaves francesas, lembrando, também, da questão da transferência de tecnologia.

– Isso não só apareceu na oferta técnica, mas também foi referendado pelo próprio presidente Sarkozy – afirmou Amorim, referindo-se a uma carta do líder francês, elaborada no início da madrugada do dia 7 de setembro, que motivou o anúncio do governo no início da tarde.
 
– Houve uma decisão de preferência nítida pela proposta francesa. Mas as formalidades da licitação, que têm de ser seguidas, são outra coisa.

O ministro da Defesa da França, Hervé Morin, também se mostrou otimista em relação à venda das aeronaves. Apesar de o governo brasileiro ter garantido que o processo de escolha dos novos aviões da FAB ainda está em aberto, Hervé Morin avaliou que o comunicado conjunto dos presidentes Sarkozy e Lula é mais significativo.

– O comunicado diz que a negociação vai de agora em diante priorizar o Rafale. Haverá uma discussão que vai tratar do financiamento do programa, das transferências de tecnologia, dos processos industriais, das cooperações industriais, do sistema de armas que será colocado nos aviões e da forma que assumirão os serviços prestados pela indústria – explicou Morin, antes de reconhecer:
 
– A venda está adiantada, mas será concluída no dia em que for assinada.

Para Morin, a França e o Brasil "falam com a mesma voz" sobre os temas mundiais mais importantes.

(Com agências)

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