Laços cada vez mais sólidos

Brasília - Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, da França, confirmaram ontem o início das negociações entre os governos dos dois países para a compra, por parte do governo brasileiro, de 36 aviões caça Rafale franceses, com o compromisso de transferência de tecnologia relacionada às aeronaves ao Brasil. Lula e Sarkozy não revelaram os valores oficiais que envolvem a negociação, mas o governo brasileiro confirmou que negocia apenas com a França a compra das aeronaves – excluindo temporariamente a Suécia e os Estados Unidos, que também concorriam com os franceses pela oportunidade de comercializar aeronaves ao Brasil. Lula justificou a compra dos aviões de caça com o argumento de que o Brasil precisa reforçar o controle de suas fronteiras e de suas riquezas naturais, principalmente a Amazônia e o pré-sal. – Vamos produzir equipamentos que reforçarão a capacidade tecnológica do Brasil para proteger e fortalecer suas riquezas naturais. Esse é um componente essencial da estratégia de defesa que meu país aprovou. Queremos preservar o continente como zona de paz. O Brasil aposta em projeto regional de defesa para a integração e o desenvolvimento – afirmou. Ao discursar ao lado de Sarkozy, o presidente disse ainda que o Brasil é um país que “prima pela paz”, mas precisa se precaver. – Deve sempre passar pela nossa cabeça a ideia de que o petróleo já foi motivo de muitas guerras, muitos conflitos. Não queremos nem guerra nem conflito. O Brasil vê oportunidade do pré-sal como oportunidade de daqui a 10 ou 15 anos se transformar em grande economia mundial. Lula disse ainda que Brasil e França consolidaram ontem uma “parceira estratégia entre dois povos que têm muita coisa em comum”. Segundo o presidente brasileiro, a França e o Brasil não querem apenas vender aeronaves, mas “pensar juntos, criar juntos, construir juntos e, se for possível, vender muito juntos”. Madrugada O acordo entre o governo francês e o brasileiro para a compra dos caça Rafale foi fechado ainda na madrugada de ontem, depois que Lula jantou com Sarkozy no Palácio da Alvorada. Ministros e técnicos dos dois países ficaram reunidos até as 2h para definir os termos do acordo, que inclui a troca de tecnologia entre França e Brasil para a manutenção e futura produção das aeronaves. Na conversa entre Lula e Sarkozy, representantes do governo francês se comprometeram com os repasses tecnológicos. – Para nós, o avião é importante. Mas o importante mesmo é ter acesso à tecnologia para que possamos produzir esse avião no Brasil. É isso que estamos negociando agora, com o ministro da Defesa da França, a empresa que produz (o avião). No fundo, o Brasil quer comprar um avião que dê ao Brasil a garantia de uso total desse avião com transferência de tecnologia – explicou Lula. Segundo o presidente, caberá, agora, ao comandante da Aeronáutica e ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, negociar os termos financeiros da operação de compra e venda das aeronaves. – Nós decidimos começar as negociações para a compra do Rafale. Eu não sei o total ainda. Esta semana estarei discutindo pormenores com comandante da Aeronáutica e o ministro Jobim, porque eles vão ter que viajar e discutir esses assuntos. Sarkozy, por sua vez, disse que a disposição dos dois governos é fazer uma espécie de operação “casada” para a compra e venda das aeronaves com as respectivas transferências de tecnologia entre França e Brasil. Ao contrário de Lula, que evitou confirmar o fim da concorrência com as empresas norte-americanas e suecas para a compra das aeronaves, Sarkozy foi mais direto e disse que o governo brasileiro quer negociar diretamente com a França a aquisição das aeronaves. – Eu anuncio aqui a decisão de, a princípio, comprar os aviões de transporte brasileiro para substituir nossos C-130. A negociação está começando, nas mesmas condições. Se eles (brasileiros) estiverem de acordo, gostaríamos de nos associar a essa construção de aviões numa verdadeira troca, como faremos da mesma maneira com o Rafale, que será desenvolvimento em comum acordo com os brasileiros – disse Sarkozy. Além da compra das aeronaves Rafale, o governo brasileiro também firmou com a França ontem o compromisso de adquirir submarinos com tecnologia nuclear e helicópteros de transporte do tipo EC-725. A ideia inicial é adquirir ao menos 50 aeronaves. Os helicópteros serão produzidos pela Helibras, que tem entre os acionistas a francesa Eurocopter.

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