Presidente da Dassault diz que venda de caças ao Brasil é ato político



Deborah Berlinck

PARIS - A compra pelo Brasil de 36 caças Rafale da França só deverá ser consumada daqui a 6 ou 9 meses, prevê a Dassault, construtora dos aviões. É o tempo do acerto final de detalhes (do financiamento ao preço), quando Brasil e França - cada qual do seu lado - vão tentar arrancar o máximo de vantagens. A barganha começou na visita do presidente francês Nicolas Sarkozy.

Segundo o porta-voz da Dassault, Yves Robins, no encontro entre os dois presidentes, Sarkozy falou de possibilidades de concessões, que a construtora não revela. Quando consumada, esta vai ser a primeira venda internacional do Rafale - um negócio pelo qual Sarkozy está disposto a lutar com unhas e dentes, para garantir seu trunfo político e reerguer a Dassault que, como muitas construtoras, está abalada pela crise.

"Para nós, é simples: o presidente Lula indicou sua preferência política pela proposta Rafale"

- Durante sua visita, Sarkozy fez um certo número de propostas suplementares. Estas propostas vão ser examinadas pela FAB - disse Robins.

E seguiu:

- Para nós, é simples: o presidente Lula indicou sua preferência política pela proposta Rafale. Confirmo que industriais franceses foram convocados para negociar, de acordo com procedimentos da FAB.

Numa entrevista ao jornal "Le Monde", o presidente da Dassault, Charles Edelstenne, disse que a venda para o Brasil prova que venda de caças é, essencialmente, um negócio "político".

- Claro que estou satisfeito, e imagine qual teria sido meu sentimento se tivéssemos voltado com mãos vazias. O que aconteceu ilustra o que digo há anos: a venda de aviões de combate é ato político. São os políticos que vendem. Foi Sarkozy quem vendeu os Rafale.

" O que aconteceu ilustra o que digo há anos: a venda de aviões de combate é ato político "

Edelstenne, que estava em Brasília com Sarkozy, deixou claro que foi pego de surpresa pelo anúncio de Lula. A "virada", disse ele no "Le Monde", aconteceu no domingo, quando, depois do jantar com o presidente Lula, Sarkozy lhe disse que faltavam "algumas questões para esclarecer, você tem até amanhã para acertar". Uma equipe do Eliseu e parceiros brasileiros, segundo ele, negociaram naquela noite.

Empresa não fala em valores

Os Rafale começaram a ser utilizados pela Aeronáutica francesa em 2006, com atraso de 10 anos depois da concepção do protótipo. As Forças Armadas francesas terão 294 caças Rafale (234 da Aeronáutica e 60 da Marinha) até 2021. O custo do programa Rafale segundo documento do Senado, foi estimado em 39,6 bilhões de euros em janeiro de 2008. Mas não há clareza sobre o preço de cada Rafale: o documento estima "entre 64 milhões de euros e 70 milhões de euros", sem contar o custo do desenvolvimento do avião. Outras estimativas apontam para preço de 138 milhões de euros por aparelho.

Até a promessa de compra do Brasil, a Dassault não havia conseguido vendê-los fora da França: perdeu para os americanos na Holanda em 2001, na Coreia do Sul em 2002, em Cingapura em 2005, no Marrocos (ex-colônia francesa) em 2007. Robins disse que a Dassault recebeu o anúncio do Brasil "com serenidade". Se a construtora já considera a batalha ganha, disse:

- A partir do momento em que o chefe do estado brasileiro indica sua escolha política pelos Rafale, tomamos nota. É tudo.

A Dassault não reagiu às manifestações da Casa Branca, que anunciou poder também transferir tecnologia . O porta-voz disse que os presidentes talvez tenham falado de valores, mas não quis dizer se a Dassault poderá baixar o preço.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem