Esquadrão Pelicano, 50 anos salvando vidas

Marcelo Ambrosio - Jornal do Brasil

A coluna de hoje é dedicada a pessoas que nós jornalistas aprendemos a respeitar sempre que nos deparamos com situações de alto risco. Em dois dos últimos graves desastres aéreos no Brasil, o acidente com o voo 1907 da Gol e o desaparecimento do Airbus A330 da Air France, os militares do Esquadrão Pelicano (2º do 10º GAV da FAB) passaram por situações de impressionante periculosidade. E isso é parte do trabalho cotidiano de um grupo que está completando 50 anos de serviços prestados, com centenas de resgates bem sucedidos. O lema "Para que outros pudessem viver" reflete bem a realidade de um tipo de operação realizada sempre sob fortíssima dose de carga emocional, envolvida na expectativa por informações e sobreviventes.

Cito esses dois casos como os mais recentes, que estão na memória. No do Boeing 737-900 da Gol, a localização dos destroços foi rápida, mas a dificuldade para se resgatar os corpos foi enorme. Foi necessário descer homens por rapel, de helicóptero – uma ação treinada com frequência e que amplia as possibilidades de êxito em caso de resgate – no meio da selva fechada para abrir caminho às equipes de remoção.

É sempre assim; a primeira observação, a primeira abordagem, o primeiro socorro é sempre com esse pessoal. Não importa com que tempo ou em que condições de ação.

Eles se viram. No caso, a situação no ambiente, com pedaços do jato – que não explodiu – espalhados nas árvores ou enterrados, tornava o local horrível e a tarefa sobrehumana.

O outro episódio que recordo ainda é uma ferida aberta. No desaparecimento misterioso do Airbus A330 da Air France sobre o Atlântico, nas primeiras horas do dia 1º de junho, os pelicanos foram os primeiros a serem acionados e decolaram (são duas bases, Campo Grande e Florianópolis) ainda de madrugada para tentar localizar num mundo de água alguma esperança de sobreviventes. No escuro, com mau tempo, sem referências visuais, apenas o último registro da rota, e contra todas as regras de bom senso, as tripulações das aeronaves de busca e resgate esquadrinharam o mar antes das luzes da manhã. Levavam com eles a expectativa da mídia e de dois países com o coração em suspenso.

Os resultados foram trágicos, é verdade.

Mas se houvesse alguém vivo ainda, fica a certeza de que o máximo foi feito para encontrar.

Assisti ao DVD comemorativo sobre as ações dos pelicanos, produzido e enviado por um amigo, jornalista e militar, integrante do grupo. O que me chama a atenção é a descrição que os sobreviventes de acidentes, principalmente com aviões pequenos, fazem do resgate. Quem voa ou já voou na Amazônia em teco-tecos sabe que em uma queda, em três dias a floresta começa a apagar os sinais. Sobreviver ao desastre já é uma sorte, escapar da queda de destroços presos muitas vezes em árvores de 30 metros de altura mais ainda. E ser localizado num inferno verde e escuro como esse é quase um milagre.

Ainda assim, o olhar treinado dos observadores que se debruçam nas grandes janelas em forma de bolha consegue capturar um brilho metálico diferente aqui, uma galharia quebrada de forma estranha ali. Posso dizer, já que participei da busca a um piloto sumido nas selvas do Tumucumaque, no Amapá, que é preciso ter olhos muitíssimos afiados para achar alguma coisa. O brilho que cintila pode ser o de um igarapé, por exemplo. Mas quem é treinado sabe distinguir o reflexo da água do que é metal.

É preciso tem também muito sangue-frio para agir quando se localiza o avião desaparecido. Quando aquele Boeing da Varig caiu no Mato Grosso, nos anos 80, uma das coisas que mais me impressionaram foi o fato de os pilotos de helicóptero da FAB terem decidido decolar no escuro para tentar salvar uma das sobreviventes, uma menina gravemente ferida. O esforço e o risco valeram a pena, já que ela escapou sem sequelas. Fica aqui essa singela homenagem

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