Suecos pressionam Lula em favor de caças da Saab

Jornal do Commércio
 
ESTOCOLMO – Além do aquecimento global, outro assunto promete esquentar as conversas de alto nível na cúpula de hoje: a disputa entre Boeing (Estados Unidos), Dassault (França) e Saab (Suécia) pelo pacote de 36 caças que o Brasil quer comprar para modernizar a Força Aérea Brasileira (FAB).

Entregues as propostas melhoradas na sexta-feira, os concorrentes aguardam – não sem pressionar, de várias maneiras, o governo brasileiro – a divulgação do nome vencedor.

No domingo, o presidente da Saab, Ake Svensson, conversou com jornalistas brasileiros em Estocolmo e apresentou o "pacote de bondades" da empresa para que os caças Gripen NG sejam os escolhidos. "Não procuramos um comprador, mas um parceiro. O Brasil também não quer apenas um fornecedor, mas também um parceiro. É uma oportunidade única", afirmou Svensson. "Não vou comentar as propostas dos nossos concorrentes", reagiu o CEO da Saab a uma pergunta do JC sobre o que ofereceram americanos e franceses.

Ao contrário do que negou o Itamaraty, o assunto será discutido sim no encontro de Lula com o premiê sueco, Fredrik Reinfelt, de acordo com a ministra do Comércio Exterior da Suécia, Ewa Björling.
 
"O governo sueco apóia a proposta da Saab. E o tema será discutido", afirmou. "Não posso dizer o que é melhor para o Brasil, mas queremos um parceiro e não um cliente", reforçou, quase repetindo as palavras ditas na véspera por Svensson.

A Saab até espera que a rainha Sílvia, filha de brasileiros, possa intervir. "Seria ótimo se ela pudesse falar com Lula sobre isso", diz um dos diretores da empresa sueca.

A proposta sueca é generosa. Oferece a oportunidade de o Brasil – via FAB e Embraer – desenvolver em conjunto o caça Gripen NG. De fabricar o avião no País e poder vendê-los aos vizinhos da América Latina. A Suécia até mesmo cogita usar o brasuca Super Tucano como avião de treinamento na Força Aérea Sueca. O percentual de retorno brasileiro, nas vendas futuras dos caças, seria de 175%.

Os suecos se comprometem a treinar todo o pessoal que lidaria com os Gripen. E o governo sueco ainda financiaria o contrato.

A proposta de vender Gripen na América Latina é tentadora, mas esbarra em um detalhe técnico, com forte aspecto político: a Saab não pode vender caças a qualquer país. A empresa precisa de autorização do governo sueco para prosseguir negociações com algum interessado. Há uma comissão independente de parlamentares que analisa o perfil do país. Caso detecte algo – como desrespeito flagrante aos direitos humanos, ditadura ou falta de democracia – a negociação é vetada.

"Não vendemos a todo mundo. O governo vê se o país é estável ou é uma democracia, por exemplo. É uma relação de governo. A indústria não diz nada. Tentamos vender, mas se eles disserem não, não vendemos", reconheceu Svensson, após o JC citar o nome da Venezuela, aliada do Brasil no plano sul-americano. A Saab tem 200 Gripen na Força Aérea da Suécia, seu maior comprador. Já vendeu 26 à África do Sul, 14 à Hungria, 14 à República Checa, 6 à Tailândia e um ao Reino Unido.

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