Cabo do Exército morre com tiro no queixo

NONATO SOUSA – Folha de Boa Vista

A morte do cabo do Exército, J.S.B., 22, supostamente por suicídio, na manhã de quinta-feira, no 5º Pelotão Especial de Fronteira, localizado na região de Auaris, na terra indígena Yanomami, já na fronteira com a Venezuela, revelou a situação possivelmente degradante vivenciada por militares não oficiais que atuam nos pelotões de fronteira do Estado de Roraima. Em e-mails enviados à Folha, diversos leitores denunciaram que os cabos e soldados chegam a passar cinco meses no local, sem poder sair.

O corpo do cabo J. chegou ao IML (Instituto de Medicina Legal) em Boa Vista no final do mesmo dia, para realização do exame cadavérico que vai determinar a causa da morte, e ainda à noite foi liberado para a família fazer o velório. Ontem à tarde, ele foi sepultado.

O Cabo J.S.B. morreu com um tiro de arma de fogo, cujo calibre não foi revelado. De acordo com uma fonte da polícia, o tiro entrou por baixo do queixo e saiu em cima na cabeça, o que provocou hemorragia cerebral e traumatismo craniano.

De acordo com informação preliminar que chegou à Folha, a notícia da morte do cabo chegou à polícia no final da manhã de quinta-feira. Foi acionada a equipe do IML para fazer a remoção do corpo do militar a Boa Vista. Uma das pessoas que encaminharam e-mails para a redação protestou contra a instituição militar e denunciou que os militares destacados para estes pelotões especiais de fronteiras são obrigados a ficar confinados sem poder vir a Boa Vista por alguns meses. Em alguns casos, esse período chega há cinco meses.

A fonte, cujo nome foi preservado, destacou que antes os militares permaneciam nestes locais por um período de trinta dias e ficavam cinco dias de folga na cidade. No entanto, essa realidade teria mudado. Para as pessoas que encaminharam e-mail à Folha, a morte do cabo pode ter sido em virtude do longo período de confinamento.

A reportagem da Folha conversou com o pai de J.S.B., mas ele não quis se pronunciar sobre a morte do filho. Também foi feito contato com outro familiar, um primo do militar. Ele não soube precisar o período exato que o rapaz estava no pelotão de Auaris, mas disse que faz alguns meses. Revelou que J.B.S. já estava querendo voltar a Boa Vista e não conseguia liberação.

O cabo J.B.S. era do 7º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva), localizado no bairro 13 de Setembro. No início da noite, a reportagem da Folha falou com o general Carlos Neiva Barcellos, comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, o comando-geral do Exército no Estado. Por telefone, ele lamentou a morte do cabo e classificou de especulação as denúncias levantadas pelos internautas.

Disse que o Exército adotou todas as providências cabíveis ao caso e que já foi instaurado um IPM (Inquérito Policial Militar) para investigar as circunstâncias da morte do rapaz.

Informou que o militar atua de forma voluntária na defesa da Pátria e o período de permanência nos pelotões de fronteira é estabelecido pelos comandos dos destacamentos e dependem da missão em desenvolvimento. Destacou que ninguém fica esquecido nos pelotões e que mensalmente uma aeronave vai a estes locais fazer reabastecimento e remanejamento dos militares que ali estão.

Ontem, um avião militar seguiu para Auaris levando peritos do Exército e da Polícia Civil para fazer uma perícia detalhada do local e tentar colher dados que levem a esclarecer o caso. O general frisou que somente no final do IPM é que o Exército irá se pronunciar oficialmente sobre a morte do cabo.

Por telefone, ainda na noite de ontem, o delegado Temair Siqueira, da Delegacia de Polícia Civil do Município de Pacaraima, a quem compete a investigação do caso no âmbito da Polícia Judiciária, informou que até aquele momento não tinha conhecimento do caso e que estava sabendo da morte do cabo pela reportagem da Folha.

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