Jobim duvida que EUA transfiram tecnologia

"O problema com os Estados Unidos é o passado", diz ministro no Rio ao lembrar o histórico de embargos norte-americanos

Durante visita ao Centro Tecnológico do Exército, ministro da Defesa diz que os Estados Unidos têm um histórico de embargos

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO - FOLHA DE S.PAULO

O ministro Nelson Jobim (Defesa) disse ontem abertamente que tem dúvidas de que os EUA vão cumprir a promessa de transferir tecnologia caso o Brasil opte pela compra dos caças americanos da Boeing.

"O problema com os Estados Unidos é o passado. O passado é o grande exemplo de embargo em transferência de tecnologia. Agora hoje assistimos a isso aqui: as informações que tivemos no CTEX em relação a alguns produtos" [que os EUA venderam, mas não transferiram a tecnologia], disse Jobim no Centro Tecnológico do Exército, no Rio de Janeiro.

Um caso simbólico foi o veto dos EUA à venda de aviões Super Tucanos, que tinham componentes americanos, à Venezuela. Jobim disse que ainda não recebeu da Aeronáutica os relatórios técnicos com a avaliação dos três caças -o francês Rafale, da Dassault, o Super Hornet, da Boeing, e o sueco Gripen NP, da Saab. De acordo com ele, esse material deve ser entregue a ele no fim do mês.

Segundo Jobim, "se não houver nenhuma objeção técnica, a decisão [da licitação] é política".

Ao conversar com os oficiais do CTEX, Jobim fez questão de perguntar se tinham componentes estrangeiros e como era a transferência de tecnologia.

Em vários casos, disse, "tivemos informações de que uma empresa americana só poderia fornecer daqui a dez anos, pelo preço altíssimo, o que mostra que são mecanismos de embargo. Isso faz parte do jogo. Todos os países do mundo não querem que os outros se desenvolvam, mas o Brasil vai se desenvolver tecnicamente", afirmou.

A Folha ouviu um alto oficial das Forças Armadas que relatou diversos problemas com os EUA neste assunto -e citou o caso da compra de quatro helicópteros Blackhawk adquiridos pelo Exército em um pacote que previa outras seis aeronaves. O contingenciamento de recursos impediu o restante do negócio: segundo esse militar, os norte-americanos se recusaram a trocar o motor e a atualizar os helicópteros. Outros episódios em que fabricantes norte-americanos dificultariam as vendas e o acesso a novas tecnologias são frequentes, disse.

Ontem, o jornal francês "Libération" publicou que a Dassault reduziu em 40% o valor do avião, de 90 milhões para 50 milhões. A Dassault nega.

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