Momentos de apreensão na Floresta Amazônica

Jornal do Brasil

Depoimentos prestados pelos sobreviventes do acidente com o avião da C-98 Caravan da Força Aérea Brasileira (FAB), na região Amazônica, revelaram que a orientação dada pela tripulação e a calma dos passageiros foram fundamentais para que, das 11 pessoas à bordo, nove sobrevivessem. De acordo com o servidor da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) Marcelo Nápoles, em nenhum momento os militares que estavam na aeronave perderam a calma. Marcelo destaca que foi o suboficial Marcelo Dias – um dos ocupantes do avião que não sobreviveu – quem abriu a saída de emergência, segurou a porta e esperou para que todos saíssem.

– Quando a aeronave foi batendo na água, o tenente Ananias disse 'quem confia em Deus, confie agora porque a gente vai pousar na água' – lembra Nápoles.

Segundo os relatos, no momento da queda, todos os passageiros estavam com vida. Depois que a aeronave fez o pouso forçado, os passageiros tiveram pouco tempo para sair e tentar pisar em terra firme antes que a água invadisse a aeronave. Os sobreviventes relataram que a queda ocorreu em cerca de cinco minutos, mas eles não conseguem se lembrar com detalhes de todo o ocorrido.

– A situação causou desespero. Só acalmou quando o avião voltou e avistou a gente. Todos se emocionaram muito. Nos abraçamos e choramos juntos.

A sobrevivente Maria das Graças Nobre conta que todos foram orientados pelo segundo-tenente José Ananias da Silva Pereira a se prepararem para o pouso forçado, colocandose em posição de emergência e de proteção. Segundo ela, o local onde o avião pousou ficava perto da parte rasa do Igarapé Jacurapá e uma das maiores preocupações entre os ocupantes do voo era com a enfermeira Josiléia Vanessa de Almeida, que não sabe nadar.

– Na medida do possível, as pessoas conseguiram manter a calma.

Tínhamos muita confiança de que o resgate seria feito – disse.

Segundo Josiléia, o fato de não não saber nadar a deixou ainda mais assustada. Contudo, ela conta que conseguiu ser auxiliada pelos militares e chegar à margem do pequeno rio com segurança.

Josiléia está grávida de três meses e, de acordo com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), sofreu uma fratura em uma das costelas e uma pequena lesão na coluna cervical. Para ela, os militares tiveram total habilidade para conduzir a situação.

– Ouvimos um barulho estranho.

O mesmo barulho se repetiu.

O mecânico foi lá, olhou e disse que não teria jeito. Pediu para que todos ficassem em posição de impacto e tirassem sapatos, relógios, tudo o que pudesse obstruir nossa saída – diz.

O tenente de infantaria Wanderson Menezes – um dos membros da equipe de resgate – contou que a expectativa inicial era encontrar todos vivos. Segundo Menezes, Josiléia foi a primeira a subir para o helicóptero que fez o resgate dos sobreviventes.

– Nesse momento, temos que colocar a emoção de lado e fazer com que o trabalho aconteça com a maior segurança possível. No caso da Josiléia, para a nossa felicidade, salvamos duas vidas, a dela e a do bebê – lembra.

O Tenente Carlos Wagner Ottone Veiga disse ontem que conseguiu acionar o instrumento de localização de emergência antes da queda do avião da FAB. Segundo Veiga, depois da decolagem, o avião foi nivelado a 3 mil metros acima do solo. Depois de 50 minutos de voo, houve perda de potência e a temperatura do motor subiu muito rápido.

– Não chegou a parar. Lembramos de acionar o instrumento de localização de emergência e optamos por fazer um pouso forçado. Ou fazíamos na selva ou no rio e a decisão da tripulação foi fazer no rio – disse Veiga. Após o pouso, o piloto contou que a tripulação fez uma rápida contagem das pessoas que estavam na água. – A aeronave flutuou pouco tempo, começou a afundar muito rápido.

Contamos dez pessoas que saíram, mas infelizmente o senhor João Abreu, da Funasa, não conseguiu sair. Não houve tempo de ajudar, porque tínhamos que ajudar as pessoas na água.

A tripulação, segundo o piloto, orientou as vítimas a nadarem para a margem do rio.

– Alguns sabiam nadar, mas outras que não sabiam. Nós tivemos de ajudar muitas pessoas – disse Veiga.

Após a primeira noite na selva, o grupo escutou o barulho da aeronave.

– Nesse momento, tínhamos certeza que seríamos resgatados.

Fizemos a sinalização com bolsas laranja, fumaça. A felicidade foi muito grande.

A Funasa confirmou ontem a realização um ato ecumênico de ação de graças em homenagem aos sobreviventes do acidente aéreo e uma missa solene em memória de João de Abreu Filho, funcionário do órgão, ambos marcados para amanhã em Tabatinga. Em nota, a fundação informou ainda que o corpo de Abreu Filho foi trasladado de Cruzeiro do Sul (AC) para Tabatinga, e que o enterro do técnico ocorreu ontem no município de Benjamin Constant (AM), onde ele morava. João de Abreu deixou duas filhas: Braene, de 10 anos, e Bruna, de 11.

Já o corpo do suboficial Marcelo dos Santos Dias, a outra vítima do acidente, chegou ontem à tarde na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, e foi sepultado na capital fluminense. Segundo os sobreviventes, Dias foi fundamental para que a maioria dos ocupantes da aeronave sobrevivessem ao acidente.

– Marcelo saiu da poltrona, foi até a porta atrás, abriu a saída de emergência e ficou. Até todo mundo sair, ele aguentou – lembra o sobrevivente Marcelo Nápoles.

(Com agências)

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