Bombardeio mata 18 guerrilheiros

Na madrugada do ano-novo, militares arrasam acampamentos a 300km da capital

Silvio Queiroz - Correio Braziliense

O ano começou para a Colômbia sem sinais visíveis de distensão no conflito entre o Estado e a guerrilha de esquerda — ao contrário, as primeiras notícias de 2010 parecem confirmar a tendência de acirramento observada em 2009. Na madrugada do dia 1º, as Forças Militares bombardearam dois acampamentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) a cerca de 300 da capital, Bogotá, e apresentaram um balanço inicial que registra ao menos 18 guerrilheiros mortos e 13 capturados, alguns deles feridos. O primeiro golpe do ano contra os rebeldes coincide com a divulgação de um balanço das operações militares nos 12 meses anteriores, com um total de 19 mil ações ofensivas por parte do Exército, das quais resultaram 1.200 combates, nos quais as Farc sofreram 2.844 baixas, incluindo 504 mortos (os demais foram capturados, se renderam ou desertaram).

De acordo com as informações oficiais, os acampamentos bombardeados ficavam na zona rural de Vista Hermosa, pequena cidade do departamento (estado) de Meta, e pertenciam à Frente 43 da guerrilha. Em conjunto, as instalações tinham capacidade para abrigar até 200 rebeldes. Na operação, os militares apreenderam 25 fuzis, uma quantidade não especificada de explosivos e documentos de interesse para a inteligência. O bombardeio foi um desdobramento da caçada movida desde o último dia 22 ao comando guerrilheiro acusado de sequestrar e assassinar o governador do vizinho departamento de Caquetá, em uma ação ousada que expôs a vulnerabilidade das autoridades civis fora dos principais centros urbanos — a capital, Bogotá, e as cidades de Medellín e Cali.

O ministro da Defesa, Gabriel Silva, que foi pessoalmente à região para ordenar uma busca sem descanso aos assassinos do governador, apresentou o bombardeio de ano-novo como "uma demonstração de que a política de Segurança Democrática segue em frente, avança e se consolida". O relatório militar para 2009 contabiliza a destruição de 1.172 acampamentos e a apreensão de quase 2 mil  fuzis, 8 mil granadas e meio milhão de balas, além de explosivos. De outro lado, porém, registra um aumento expressivo nas ações das Farc contra as Forças Militares: foram 968, cerca de 90% a mais que os 507 ataques cometidos em 2008.

O secretário de Governo de Caquetá, Edilberto Ramón Endo, confirma os dados pela experiência própria do departamento, um dos três que concentraram 61% das investidas guerrilheiras no ano passado, ao lado de Nariño e Cauca — este último o mais afetado, com 24% das ações ofensivas das Farc. Embora admita que a situação evoluiu em relação ao início da década, quando um município de Caquetá e quatro de Meta (entre eles Vista Hermosa) foram desmilitarizados para um frustrado processo de paz, o secretário adverte que o assassinato do governador atesta a presença da guerrilha nas zonas rurais. A impressão é confirmada pelo ex-senador Luis Eladio Pérez, refém das Farc entre 2002 e 2008, que acusa o governo de mentir quando afirma que recuperou o controle da antiga zona desmilitarizada:

"Passei cinco anos por ali, nas mãos da guerrilha, e nunca vi a presença do Exército".

Ainda mais crítico ao governo — no semestre em que o país terá eleições para o Congresso (março) e a Presidência (maio) — é o informe divulgado no fim de novembro pela Corporação Novo Arco-Íris, ONG que acompanha o conflito. O estudo registra, até o fim de outubro, 1.439 ações ofensivas das Farc em todo o país, um incremento de 30% em relação a 2008. O diagnóstico é de que a Segurança Democrática, trunfo do presidente Álvaro Uribe para tentar o terceiro mandato consecutivo, "teve seu ponto alto em meados de 2008 e agora esbarra em seus limites, exigindo uma revisão geral".

O NÚMERO

2.844 - Total de guerrilheiros das Farc dados de baixa pelo Exército em 2009. O balanço inclui mortos, feridos e capturados, além de desertores

O NÚMERO

968 - Total de baixas sofridas pelas Forças Militares em confronto com a guerrilha no ano passado. Em 2008, o balanço foi de 507 perdas para os militares

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