Mais aberto, projeto escolhido é o que oferece mais risco


Possibilidade de usar fornecedores diversos pode dificultar cumprimento de prazos de entrega do pacote do Gripen NG

Diferenciais do avião sueco foram a inclusão do plano de montagem conjunta com a Embraer no preço final do pacote e valor mais barato

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA - FOLHA DE SP

A escolha técnica da FAB pelo pacote do Gripen NG mostra que os militares priorizaram o avião mais barato e com projeto mais aberto do ponto de vista tecnológico e industrial, mas também o mais arriscado em termos de prazos para a entrega do produto final.

Saab, Boeing e Dassault entregaram três concepções diferentes em suas ofertas. O Gripen NG é uma versão de demonstração do desenvolvimento de um avião que já conta com duas gerações anteriores, mas não existe além do protótipo. Rafale é um produto pronto, embora a versão ofertada fosse aberta a alguns aprimoramentos conjuntos. Já o F/A-18 E/F, amplamente utilizado, é uma estrutura fechada.

Qualquer escolha é defensável. O debate acabou sendo qualificado com as audiências públicas e a exposição do tema pela imprensa. Ninguém mais fala em "transferência de tecnologia total".

Todos os aviões usam, em maior ou menor escala, peças de fabricantes diversos. O que torna o Rafale um avião caro é o fato de que sua produção é verticalizada principalmente entre fornecedores do seu consórcio francês. Com isso, há perda de ganho de escala: em vez de buscar a melhor peça pelo menor preço, a simbiose fabricante-fornecedor cria produtos únicos e mais caros.

O Gripen NG é o avesso disso, tendo buscado preservar com o fabricante sueco o conhecimento da integração de peças e a possibilidade de usar outros fornecedores caso algum deles caia sob um embargo político. Foi o comprometimento de entrega deste "know-how" que lhe deu pontos.

Além disso, usa produtos com escala, como o motor americano, que o deixa mais barato. Por ser monomotor, tem custo naturalmente mais baixo de operação e manutenção.

Por outro lado, essa filosofia encerra riscos. Há a questão da tecnologia embarcada. Quando visitou a fábrica do Gripen no ano passado, a Folha perguntou se não haveria dúvidas quanto a eventuais embargos pelo fato de o motor e o cérebro eletrônico do avião serem americanos. Ouviu um genérico "nós podemos substituir por outros fornecedores".

Pode até ser, mas qualquer mudança de peças fundamentais do avião ao longo dos anos representa um risco grande em termos de custos e prazos. Esse foi o principal ponto de venda dos franceses: podemos ser mais caros, sim, mas não haverá sobressaltos nas entregas.

Outro problema para o Gripen NG é ainda ser um protótipo. A Saab tem a seu favor o fato de ter feito a evolução da geração A/B do avião para a C/D dentro do prazo e do orçamento de 1 bilhão. Contra, o fato de que o NG tem mudanças muito mais profundas.

A Boeing, que só intensificou sua campanha de venda e de pressão diplomática nos últimos três meses, fez uma tentadora redução de preço e de oferta de tecnologias em compensação do fato de o F-18 ser um produto pronto.

Outro diferencial dos suecos foi a inclusão do plano de montagem conjunta com a Embraer no preço final do pacote - antes, era um opcional caro. A fabricante brasileira, segundo a Folha apurou, viu mais vantagens competitivas em associar-se à Saab, já que não competem em Aviação civil como Boeing (jatos comerciais) e Dassault (Aviação executiva).

Do ponto de vista militar, os três se qualificaram para servir à missão prevista: interceptação supersônica, combate ar-ar com capacidade além do campo visual e ataque a solo.

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