Outro perigo da guerra

Steven Lee Myers - THE NEW YORK TIMES

A capitã Margaret White iniciou um relacionamento com um sargento quando os dois passavam por um treinamento para irem servir no Iraque. Quando os dois chegaram à base de Camp Taji, ao norte de Bagdá, ela sentiu o que chamou de "vibrações negativas" e tentou impor um ponto final no relacionamento.

No ambiente claustrofóbico de um posto de combate, não era fácil, contudo, romper com o namorado. Ele deixava recados na porta do dormitório dela, com mensagens que variavam de súplica a ameaça. Margaret conta que ele a obrigou a praticar sexo. Ele a pediu em casamento, embora já fosse casado. Certa vez, o sargento esperou por ela durante três horas em frente ao banheiro das mulheres.

– Chegou um momento em que eu me sentia mais segura durante operações conduzidas fora da área de segurança do que quando estava no chuveiro – conta Margaret.

O sofrimento dela terminou quando o sargento foi acusado formalmente de persegui-la e recebeu uma ordem judicial militar para se manter distante da moça. Este caso ilustra a nova e confusa realidade enfrentada pelos membros das forças armadas quando homens e mulheres servem, mais do que nunca, lado a lado em zonas de combate.

O assédio e o abuso sexual, que atualmente as Forças Armadas dos EUA definem de forma abrangente, incluindo não só o estupro, mas também crimes como apalpar e espreitar os outros, continuam afetando as tropas e, segundo relatos, estão cada vez mais frequentes. Embora dezenas de milhares de mulheres tenham servido no Iraque e no Afeganistão, muitas vezes em combate e com distinção, a integração de homens e mulheres em locais como Camp Taji fez com que surgissem questões com as quais os comandantes militares raramente, ou nunca, haviam lidado.

As forças armadas modificaram de maneira radical – e com atraso, de acordo com críticos – a maneira como lidavam com casos de abuso sexual, ampliando o acesso a tratamentos e adotando punições mais severas. No clima difícil da guerra, contudo, os efeitos das mudanças ainda não estão bem definidos.

Ambiente O estresse decorrente do combate, da convivência em ambientes de pouco espaço em locais remotos, a tensão e o tédio podem criar condições propícias para o abuso sexual, apesar do fato de as Forças Armadas fornecerem tratamento médico às vítimas e submetendo os acusados a processos judiciais.

Margaret diz que temia denunciar o problema, apesar de ter ficado cada vez mais deprimida e de sofrer ataques de pânico, porque sabia que haveria recriminações no mundo militar fechado em que se encontrava e que isso prejudicaria a missão.

Apesar da declarada tolerância zero das Forças Armadas para com os casos de abuso e assédio sexual, ela não tinha certeza de que o caso seria levado a sério, de forma que tentou resolver o problema sozinha.

Em relatório divulgado neste mês, uma força-tarefa criada pelo Pentágono para lidar com o problema criticou os esforços das Forças Armadas para prevenir o abuso sexual, citando "estresses específicos" inerentes a missões em locais como Camp Taji.

De acordo com o documento, alguns membros do Exército deram a entender que os predadores podem acreditar que não serão responsabilizados pelos seus atos impróprios durante a missão pelo fato de o foco dos comandantes nas operações superar outras preocupações.

– O problema é que nos encontramos no meio de uma zona de guerra – diz Margaret, temendo ser vista como inferior por ser mulher.

– É como se esse tipo de coisa não tivesse muita importância se comparado à detonação de um explosivo improvisado que fere pessoas.

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