Medo do Irã acelera corrida às armas entre os vizinhos

Para líderes do golfo, Teerã com ogivas nucleares e arsenal de mísseis significaria uma ameaça direta à ordem regional

Relações entre Irã, berço do islã xiita, e o mundo árabe, cuja maioria é sunita, são marcadas por profunda e histórica desconfiança

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM - Folha de SP

Com exceção da Síria, que mantém uma aliança estratégica com Teerã, todos os regimes árabes deixam clara sua preocupação com as ambições nucleares iranianas.

Para os líderes árabes, um Irã armado com ogivas nucleares e um arsenal de mísseis de médio e longo alcance significaria uma ameaça direta à ordem regional e à própria estabilidade de seus governos.

A perspectiva mantém a vizinhança em permanente alerta, diante da declarada ambição do regime iraniano de alcançar a hegemonia regional. Isso também deflagrou uma corrida armamentista.

Em seu balanço sobre o setor de defesa mundial em 2009, o respeitado centro britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), afirma que a preocupação com o Irã levou a maioria dos países do golfo Pérsico a "buscar silenciosamente formas de garantia estratégica dos Estados Unidos e adquirir os mais modernos equipamentos militares".

Dois exemplos citados pelo anuário são os bilionários gastos em armas anunciados em 2008 pelo governos dos Emirados Árabes Unidos (R$ 17,4 bilhões) e da Arábia Saudita (R$ 15,6 bilhões).

Além disso, os EUA aceleraram a instalação de um sistema de defesa na região, com o envio de mísseis antimísseis Patriot a quatro países do golfo e dois navios equipados com armamento semelhante para patrulhar a costa do Irã.

Um estudo publicado pelo Instituto Washington para o Oriente Médio (EUA) sobre as possíveis reações do mundo árabe a um Irã atômico afirma que os regimes da região compartilham a convicção de que o programa nuclear civil de Teerã é apenas um pretexto para construir a capacidade militar.

Para o estudo, embora não haja motivos para prever que os EUA deixem de atuar como "guardiães da segurança no golfo", os países da região poderão apostar em outros tipos de armas de destruição em massa, como armas químicas, para compensar sua falta de capacidade nuclear.

As relações entre o Irã, berço do islã xiita, e o mundo árabe, em sua maioria sunita, são tradicionalmente marcadas por uma profunda desconfiança, que tem origem em séculos de disputa política e religiosa. A rivalidade se acentuou após a instalação do regime teocrático em Teerã, em 1979, e a ambição iraniana de exportar a Revolução Islâmica.

Em grande parte da imprensa do mundo árabe e muçulmano, o anúncio de que o Irã dará mais um passo em seu programa nuclear, com o enriquecimento do urânio a 20%, foi retratado ontem como um ato deliberado para sabotar as negociações com o Ocidente.

"Ahmadinejad desafiador", foi a manchete do jornal "Hurryet", um dos mais importantes da Turquia. Para o libanês "L'Orient Le Jour", o Irã subiu mais um degrau "em sua escalada contra o Ocidente". Em editorial, o "The Peninsula", do Qatar, onde deve ser instalada uma bateria de mísseis Patriot, manifesta preocupação também com avanço do programa balístico iraniano.

Ao mesmo tempo, a mídia árabe não para de publicar supostos indícios de que um ataque israelense às instalações iranianas pode ser iminente. Há poucos dias, a imprensa do Egito divulgou que dois navios de guerra israelenses teriam passado recentemente pelo canal de Suez, navegando em direção ao golfo Pérsico.

A passagem, segundo fontes oficiais, teria sido cercada de cuidados de segurança por parte do governo egípcio, um dos maiores rivais do Irã na região.

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