Presidente brasileiro ironiza Start e critica pressão a iranianos

Em entrevista ao jornal espanhol ''El País'', presidente compara armas atômicas a ''remédios vencidos''

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa do Irã e ironizou o acordo assinado entre EUA e Rússia na semana passada, que estabelece um corte de 30% no número de armas nucleares das duas potências militares.

Em entrevista ao jornal espanhol El Pais, publicada ontem, Lula comparou a redução de armas à atitude de jogar no lixo remédios que estão caducado - insinuando que Moscou e Washington apenas estão se desfazendo de armas ultrapassadas.

"Se estamos falando de desativar o que já havia caducado, não tem sentido. Eu tenho também em casa uma caixa de remédios da qual vou jogando fora os que caducam", declarou.

Os presidentes Barack Obama e Dmitri Medvedev aproveitaram o encontro em que assinaram o novo acordo de desarmamento, em Praga, para mandar recados duros ao Irã. Lula insistiu que defenderá uma negociação com o país e prometeu que quer conversar com o líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad "até o último minuto". "Não se pode partir do preconceito de que Ahmadinejad é um terrorista que é preciso isolar. Temos que negociar", disse.

Hoje, o presidente chega aos Estados Unidos para debater a questão da segurança nuclear em uma cúpula promovida pelos americanos.

O Irã vem indicando que insistirá com seu programa nuclear e o Brasil, com assento não permanente no Conselho de Segurança da ONU, vem mostrando que será contra a imposição de novas sanções, como querem americanos e europeus.

"O Irã é um grande país, com uma cultura própria, que criou uma civilização. É preciso que os iranianos saibam que podem enriquecer urânio para fins pacíficos e que nós tenhamos a tranquilidade de que é só para isso", declarou o presidente.

PARA ENTENDER

O Start, novo pacto para controle de armas nucleares assinado por Rússia e EUA, reduz apenas o número de alguns tipos de armas - de 2.200 para 1.550 ogivas nucleares ativas em cada país, e de 1.600 para 800 em cada país os veículos para transporte dessas ogivas, como bombas, mísseis e submarinos. O acordo também estabelece mecanismos de verificação, que haviam expirado em dezembro e eram parte do tratado Start anterior. O texto ainda prevê controles em instalações nucleares e intercâmbio de informações. O acordo ficará em vigor por dez anos e poderá ser renovado por no máximo cinco anos. Antes de entrar em vigor, o tratado deve ser ratificado pelos congressos de ambos os países.

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