Tem marinheira no judô

Judocas da Oi/Sogipa ingressam na Marinha para lutar nos Jogos Mundiais Militares, que ocorrem no Rio de Janeiro em 2011

Mariana Oselame - Correio do Povo

Foi instantâneo, quase instintivo. Quando o Hino Nacional Brasileiro começou a ser executado em San Salvador, há duas semanas, a campeã pan-americana Mayra Aguiar espalmou as mãos e imediatamente ficou na posição de sentido. Afinal, a medalha de ouro na categoria até 78kg foi a primeira da gaúcha desde o ingresso na Marinha do Brasil, em março deste ano. "Agora somos atletas diferentes, pessoas diferentes. Somos militares", explicou a judoca ao Correio do Povo antes de um treino no tatame da Sogipa.

Mayra faz parte do grupo de 194 atletas de alto nível que ingressaram nas Forças Armadas para defender o Brasil. Engana-se, no entanto, quem pensa que a judoca vai pegar em armas para brigar pelo país. A luta de Mayra e de atletas como Taciana Lima e Natália Bordignon será no tatame nos Jogos Mundiais Militares, em julho de 2011, no Rio de Janeiro. "Somos voluntárias. Abriu um edital, nos inscrevemos e então passamos por testes físicos e entrevistas para fazer o curso de quatro semanas", destacou Taciana, da categoria até 48kg, que se formou com Mayra há um mês no Rio.

Primeira judoca da Oi/Sogipa a ingressar na Marinha, ainda no ano passado, Natália diz que o fato de ser judoca ajudou bastante no aprendizado militar. "Lá mesmo, no quartel, eles diziam que o pessoal do judô era muito mais disciplinado em relação aos outros. É um esporte em que se aprende a cair e a levantar, e na Marinha é a mesma coisa. Tem que saber respeitar e baixar a cabeça para o superior", argumentou a atleta da categoria até 70kg.

Durante o período em que ficaram aquarteladas, as três judocas marinheiras cumpriram uma rotina digna do rigor militar. O despertar era às 6h e, antes do café da manhã com horário e duração controlados e das aulas sobre militarismo, elas deveriam "formar" no pátio do quartel. "No começo, acordávamos ainda mais cedo porque não sabíamos fazer o coque baixo, sem nenhum cabelo arrepiado", admite Natália. A boa aparência das marinheiras, por sinal, é um dos aspectos mais cobrados. "Eles passam um por um para conferir se está tudo certo. Se não estiver, tem bronca!", diz Mayra, em tom de brincadeira.

Acostumadas ao quimono, as judocas também precisaram se adaptar a uma nova realidade: a farda. "Pode ver que é uma roupa bem grande, cobre tudo", mostra Natália. "É um sufoco para colocar, uma tem que ajudar a outra, mas a gente se sente importante", confessa Taciana. Mayra, por sua vez,  pareceu ainda não estar muito acostumada à vida de militar. "Esqueci o sapato!", revelou no início da entrevista, se desculpando por não ter trazido o calçado oficial das marinheiras.

Por enquanto, pelo menos até julho de 2011, o esquecimento de Mayra vai ficar por isso mesmo.

Mas ela que se lembre da farda completa até os Jogos Mundiais. Porque quando as judocas marinheiras voltarem a prestar continência, não terá desculpa. Esqueceu o sapato? Pode pagar as flexões ou abdominais.

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