Oficial tomba na guerra urbana

Tenente-coronel do 18º Batalhão de Infantaria Motorizada foi morto por assaltantes ao negar-se a entregar chaves do carro
 
Zero Hora

Militar experiente de Infantaria, o Tenente-Coronel César Luis Bezerra Sylos era treinado para o combate corpo a corpo até na selva amazônica. Subcomandante do 18º Batalhão de Infantaria Motorizado (18º BIMtz), estava à frente de uma das unidades de elite do Exército. No sábado à tarde, aos 47 anos, tombou morto a tiros por ladrões que atormentam motoristas e comerciantes em Sapucaia do Sul.

Sylos foi surpreendido quando entrava à paisana em um supermercado. Ele se negou a entregar a chave da sua S-10 a bandidos que tentavam fugir após assalto ao estabelecimento.

Foi também por instinto de pai que Sylos reagiu à abordagem dos ladrões. O militar queria evitar que a caminhonete dele fosse levada pelos bandidos, pois a filha adolescente estava a sua espera dentro do carro, estacionado a meia quadra da entrada do supermercado Pague Menos, no bairro Piratini, distante cerca de um quilômetro do apartamento do militar.

Conforme informações da Brigada Militar, depois de recolher pertences de vítimas e R$ 1,3 mil dos caixas do comércio, dois bandidos exigiram um carro para fugir. Pegariam um veículo dos donos do estabelecimento, mas na confusão – havia mais de 30 clientes no local – os proprietários se desvencilharam dos bandidos.

– Vi dois aqui dentro. Eram muito violentos. Me agrediram com coronhadas na cabeça, e quando a gente conseguiu escapar para os fundos, eles se atrapalharam. Iam saindo na porta e viram o senhor (Sylos) carregando a chave do carro. Estamos arrasados – relembrou ontem o comerciante Marco Aurélio Weide, 31 anos.

Um dos criminosos agarrou a mão do militar, que, sem perceber o que se passava, fez um movimento brusco, puxando o braço.

– Isso é assalto – gritou o bandido, irritado.

Polícia faz retratos falados, e BM vigia acessos a Sapucaia

O militar começou a caminhar para trás, saindo para a rua. Segundo informações da BM, Sylos teria tentado sacar da cintura sua pistola calibre nove milímetros. Os bandidos perceberam a intenção de Sylos e abriram fogo. Mesmo que conseguisse pegar a arma, possivelmente o oficial perderia tempo até poder disparar. Seguindo norma do Exército, a pistola de Sylos não estaria pronta para disparar – o pente tinha munição, mas não havia cartucho na câmara (junto ao cano).

– Ele precisaria fazer o que chamamos de golpe de segurança. A arma estava alimentada, mas, provavelmente, não municiada – afirmou o major Ronie Coimbra, comandante da BM em Sapucaia do Sul.

Na Brigada, por causa do risco iminente de confronto, os PMs são orientados a sempre usar pistolas prontas para o disparo. Sylos foi atingido por três tiros – o primeiro no ombro esquerdo e outros dois nas costas.

– Foi muito triste ver a cena do militar no chão e a filha, ao celular, ligando para a mãe – lamentou a comerciante Nelcina Weide, 62 anos.

Socorrido por PMs, Sylos foi levado ao hospital, onde morreu. Os bandidos fugiram em direção a Novo Hamburgo num Palio vermelho quatro portas. Dois suspeitos foram identificados pela Polícia Civil, que elaborou retratos falados. Eles seriam conhecidos por envolvimento em assaltos, mas até a noite permaneciam foragidos.

– Vamos pegá-los – garantiu o delegado regional Edilson Chagas Paim.
 
Segundo ele, uma equipe extra com seis policiais foi integrada à 1ª DP para reforçar as investigações. A BM incrementou o patrulhamento nas ruas com barreiras nos principais acessos a Sapucaia e cidades vizinhas.
 
Tenente-Coronel queria "ser gaúcho"
 
N
atural de Araçatuba, no interior de São Paulo, o tenente-coronel do Exército César Luis BeSylos, 47 anos, vivia no Rio Grande do Sul havia pouco mais de um ano, mas já nutria um gosto especial pela terra, alimentando o desejo de ficar para sempre entre os gaúchos. Antes, havia servido no 53º Batalhão de Infantaria de Selva, em Itaituba, no Pará.

– Almoçamos juntos na quinta-feira passada em uma solenidade e conversamos longamente. Ele falou muito bem daqui. Disse que era casado com uma paraense, que estavam bem adaptados e com intenção de permanecer em definitivo – recordou o major Ronie Coimbra, comandante da Brigada Militar em Sapucaia do Sul.

Sylos ocupava o posto de subcomandante do 18º BIMtz, em Sapucaia do Sul, desde fevereiro de 2009, e por conta disso mantinha estreitos contatos com a BM, a quem colaborou com a formação de 39 novos PMs. Por meio da parceria, Sylos forneceu mobiliário e roupas de cama para a BM alojar os novos soldados e abriu espaço na linha de tiro do quartel para treinamentos.

O assassinato consternou oficiais do Exército no Estado.

– O sentimento de pesar é muito grande e vem a enlutar a todos nós – afirmou o tenente-coronel José Nero Cândido Vianna, da seção de comunicação social do Comando Militar do Sul.

Entre colegas mais próximos, Sylos era considerado um oficial de fino trato, que conversava do mesmo modo com oficiais superiores ou recrutas.

– Era uma pessoa tranquila, que gostava muito de ler sobre política – contou o tenente Rodolfo Cardoso, do setor de comunicação do 18º BIMtz.

O comandante da unidade, tenente-coronel Nei Leiria do Nascimento, lamentou que Sylos tenha morrido em uma fase de sucesso em sua carreira – havia sido promovido a tenente-coronel em abril – e na vida familiar – três meses antes, comemorou o nascimento da segunda filha. Além do bebê, ele deixa a mulher e outra filha, adolescente.

A despedida de Sylos dos gaúchos ocorreu ontem em uma cerimônia reservada, no salão de honras do 18º BIMtz, onde só foi permitida a presença da família, de militares e de autoridades. Um pastor evangélico conduziu preces e, depois, o corpo foi levado em um carro fúnebre, seguido de um comboio, para a Base Aérea de Canoas, de onde seguiu, à tarde, de avião para Valinhos (SP). O sepultamento está marcado para as 10h30min de hoje no Cemitério Parque Acácias.

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