Sargento denuncia assédio em hospital

Em unidade militar, quem não faz orgia é discriminado, denuncia enfermeira

Evandro Corrêa
Marabá - O Liberal

A sargento do Exército brasileiro Rubenice de Nazaré Dias Martins procurou a reportagem de O Liberal para denunciar perseguição sistemática de que estaria sendo vítima por parte de militares de alta patente do Hospital Militar de Marabá. Rubenice, que também é técnica de enfermagem, faz denúncias gravíssimas, revelando que dentro do hospital e em vários unidades militares, ocorreram orgias sexuais, entrada de mulheres e bebida e ainda a participação direta de menores, cabos e soldados, e até mesmo parentes de militares. Segundo ela, um dos envolvidos seria o o vice-diretor do hospital militar, o tenentecoronel Alberto Dias Almeida, que estaria aliciando outros militares da corporação. A história já foi divulgada pela imprensa em Marabá, com grande repercussão.

Rubenice Martins conta que, após três anos e onze meses, foi demitida, no dia 27 de fevereiro passado, depois de ser "perseguida e humilhada", em retaliação às denúncias que fez. Ela ressalta que já ingressou na Justiça Federal de Marabá com um pedido de reintegração nas fileiras do Exército, ressaltando que foi perseguida e injustiçada após denunciar assédio sexual cometido pelo comandante do Hospital de Guarnição de Marabá (HGUMBA) e também por alguns soldados recém-incorporados ao hospital.

Ela conta que tudo começou quando tomou conhecimento que o soldado Charles Carvalho de Melo estava sofrendo assédio sexual e moral por ter se recusado em participar de orgias sexuais que aconteciam na casa do tenente-coronel. Como recompensa por cederem aos apelos do militar, os soldados eram agraciados com o engajamento efetivo no Exército.

Conforme as denúncias de Rubenice Martins, proposta semelhante também foi feita ao soldado Carvalho, que se recusou a fazer parte do grupo, passando a sofrer perseguições e humilhações no trabalho. Segundo a ex-militar, todos os fatos foram levados ao conhecimento do general Mário Lúcio Alves de Araújo e ao coronel Hugo Bartolomeu Ferreira. Por conta das denúncias, Rubenice recebeu cinco punições do Exército por aquilo que a hierarquia militar taxou como "transgressão à hierarquia e disciplina". Berenice disse também a O Liberal que por conta do episódio, foi alvo de uma sindicância e um Inquérito Policial (IPL), sendo que ambos foram inconclusivos, isentando o tenente coronel de qualquer responsabilidade.

Ela ressalta que após as denúncias de assédio sexual, foi transferida de volta para o Batalhão Logístico (Blog), onde era a única militar, apesar de ser da área de saúde, a tirar serviço como sargento comandante da guarda. "Eu cheguei a chorar na frente dos soldados, pois, não tinha experiência como sargento de dia", afirmou. Ela também diz que ficou proibida de entrar no pavilhão onde trabalhava o tenente-coronel comandante do 23º Blog, Alfredo Alexandre de Menezes Júnior.

Revoltada com as humilhações, a ex-sargento diz que vai tentar falar com o presidente Lula, na visita que o mesmo fará a Curionópolis, na próxima quinta-feira, 6, para narrar o verdadeiro escândalo sexual que se instalou no Exército de Marabá. "O presidente é o chefe maior do Exército brasileiro. Tenho certeza que ele não tolera um absurdo destes", diz Rubenice. Para a reportagem, a ex-sargento revela que tem várias fotos das festas em que ocorriam as orgias e até mesmo do tenente coronel vestido com trajes femininos.

Procurado por O Liberal na tarde de ontem, o Comando da 23ª Brigada de Infantaria de Selva de Marabá disse que não irá se manifestar sobre o caso, porém enviou uma nota ressaltando que o Comando "não foi notificado ou informado acerca do assunto por qualquer órgão ou instituição a quem caiba apurar ou atestar a veracidade dos fatos narrados pela ex-militar". A 23ª Brigada de Infantaria de Selva informou ainda, através de sua Assessoria de Comunicação Social, que as suas "Organizações Militares diretamente subordinadas tomarão as medidas legais cabíveis, como sempre o fizeram, toda vez que a situação assim o exigir".

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