Israel volta a atacar

Comando de elite da Marinha mata quatro palestinos vestidos de mergulhadores que estariam planejando atentado perto de Gaza. Líder do Hamas fala ao Correio sobre paz com o Fatah

Rodrigo Craveiro - Correio Braziliense

Assim que a notícia chegou à Cidade de Gaza, por meio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a resignação tomou conta de parte dos palestinos. Poucos conheciam Fayiz Alfiri, 21 anos, morador do campo de refugiados de Jabaliya; Muhammad Qweidir, 34, da Cidade de Gaza; Ibrahim Al-Wahidi, 25, da área portuária; Hamid Thabit, 20, do campo de refugiados de Nusseirat. Os quatro militantes das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa — um dissidência da facção Fatah, do presidente Mahmud Abbas — foram mortos por tropas israelenses quando deixavam a costa de Nusseirat rumo ao norte, às 4h30 (hora local) de ontem. De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF), eles vestiam roupa de mergulho e se preparavam para um "ataque terrorista".

"Nós, de Gaza, aceitamos o destino deles. É como se fosse o pagamento de nossa batalha", afirmou ao Correio, pela internet, Majed Abusalama, coordenador da Rede de Grupos da Juventude Palestina na Faixa de Gaza. Sob a condição de anonimato, uma autoridade israelense revelou que a operação foi realizada pela Shayelet 13, a unidade de comando de elite da Marinha que atacou a flotilha humanitária Liberdade, no último dia 31. O incidente ganhou ontem contornos de crise interna, depois que o partido centrista Kadima propôs um voto de desconfiança contra o governo. "O atual governo não está representando o Estado para o mundo", criticou a ex-chanceler Tzipi Livni, líder do Kadima.

Sobre o episódio de ontem, o jornal Yedioth Ahronoth revelou que "um dos terroristas estava em um pequeno barco, enquanto os outros nadavam a seu lado, a poucas centenas de metros da praia". A morte dos extremistas serviu de pretexto para o governo israelense voltar a defender o bloqueio a Gaza.
 
"Essa é a explicação para o fato de a fronteira com Gaza, tanto terrestre quanto marítima, precisar ser estrita e fortemente controlada. Não podemos permitir ao Hamas realizar ataques à vontade em nosso território", disse Yigal Palmour, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, à TV Reuters.

Israel prosseguiu ontem com a campanha de defesa da operação militar que matou nove integrantes da flotilha. Por meio de um comunicado à imprensa, as IDF divulgaram que cinco passageiros do navio Marmara Mavi "são conhecidos por seu envolvimento em atividades terroristas".

Segundo o texto, Fátima Mahmadi é contrabandista de componentes eletrônicos que poderiam ser usados em bombas; Ken O'Keef e Ahmad Uminon atuam como agente do Hamas; Hassan Iynasi fornece apoio financeiro à Jihad Islâmica; e Hussein Urosh ajuda no tráfico de pessoal da rede Al-Qaeda. As IDF criaram uma equipe de especialistas para "examinar a incursão contra a flotilha". Na tentativa de romper o embargo a Gaza, a ONG Crescente Vermelha iraniana admitiu que enviará três barcos — dois deles antes do fim de semana — e um avião à região.

Reaproximação

Em uma manobra surpreendente, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, enviou à Faixa de Gaza representantes do partido Fatah, com o objetivo de iniciar o diálogo com o Hamas. As facções são inimigas declaradas desde junho de 2007. Por telefone, o israelense Ely Karmon — analista do Centro Interdisciplinar de Herzlyia — afirmou que qualquer desdobramento político dependerá de Ancara. "Abbas já se encontrou com o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, e foi convencido a aceitar a reconciliação, sob as condições do Hamas", lembra. "Isso seria o fim do processo de paz. O Hamas fará de tudo para sabotar as negociações com o Fatah.

Gafe aposenta correspondente

Após 50 anos cobrindo a Presidência dos Estados Unidos, a correspondente Helen Thomas anunciou a aposentadoria. Na semana passada, a jornalista de 90 anos cometeu uma gafe que tornou sua posição na Casa Branca insustentável. "Os judeus deviam dar o fora da Palestina e voltar para a Alemanha e a Polônia", disse ela. A "primeira-dama da imprensa dos EUA" apresentou ontem seu pedido de desculpas. "Eu me arrependo profundamente do comentário. Ele não reflete minha crença de que a paz virá quando as partes reconhecerem a necessidade de mútuo respeito e tolerância. Que este dia seja em breve", afirmou.

A bordo do horror

Ativistas pró-palestinos são vistos a bordo do navio de bandeira turca Mavi Marmara, o maior da flotilha humanitária Liberdade. Com barras de ferro, preparam-se para a entrada dos soldados israelenses, na madrugada de 31 de maio passado. Em outra imagem , tentam imobilizar um militar do comando de elite Shayelet 13. As imagens do ataque de Israel à embarcação foram divulgadas ontem pela revista turca Gercek Hayat Magazine.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem