Afeganistão minimiza conteúdo de documentos da guerra vazados

DA ASSOCIATED PRESS, EM CABUL (AFEGANISTÃO)
DE SÃO PAULO - Folha 



O governo do Afeganistão disse estar chocado com a divulgação de mais de 91 mil documentos secretos dos militares americanos sobre a guerra em seu país, mas não com o conteúdo revelado por eles.

"Sobre o conteúdo destes documentos vazados, a reação do presidente foi de que a maioria disso não é  novidade e já foi discutido no passado com nossos parceiros internacionais", disse o porta-voz presidencial afegão, Waheed Omar.

Os documentos foram revelados pelo site Wikileaks, uma espécie de Wikipedia de documentos vazados, e trariam inclusive evidências de crimes de guerra.

Omar disse na segunda-feira que funcionários do governo estão estudando os papéis, especialmente aqueles que falam de morte de civis não reportadas e do apoio do serviço secreto do Paquistão a grupos insurgentes no país.

Omar ressaltou que Cabul não vai explorar os não divulgados incidentes de morte de civis pelas tropas da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mesmo que o presidente Hamid Karzai já tenha ido à público inúmeras vezes para condená-los.

Omar elogiou ainda o "bom progresso" dos últimos 18 meses na redução da morte de civis.

O fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, afirmou nesta segunda-feira em entrevista coletiva que os documentos secretos trazem evidências de crimes de guerra.

Ele afirmou ainda que, até agora, tudo o que havia sido divulgado sobre a guerra era apenas um "arranhão na superfície" e comparou a divulgação com a abertura dos arquivos da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental.

Neste domingo, o site postou milhares de registros militares americanos de seis anos da guerra contra o grupo islâmico Taleban --de janeiro 2004 a dezembro de 2009--, incluindo incidentes não reportados de assassinato de civis e operações secretas contra nomes do alto escalão taleban.

Tanto a Casa Branca quanto o governo britânico e o paquistanês condenaram a divulgação dos dados. Os EUA, contudo, não negaram a autenticidade dos documentos, que revelariam bastidores muito mais cruéis do que eles gostariam de divulgar ao público.

Assange disse ainda que não há motivos para duvidar da veracidade dos documentos, mas "assim como lidar com qualquer fonte, você deve exercer bom senso". "Isto não significa que você deva fechar os olhos", disse.

A ideia do site é divulgar material o mais amplamente possível com completo anonimato das fontes, que fazem uploads anônimos e protegidos.

O fundador do site denunciou ainda que o governo australiano está investigando ele e outros membros da sua equipe, a pedido dos Estados Unidos.

REVELAÇÕES

Entre as informações que vieram a público, os documentos afirmam que centenas de civis foram mortos sem conhecimento público e oficial pelas tropas de coalizão no Afeganistão, planos secretos para exterminar líderes extremistas do Taleban e Al Qaeda e a discussão do suposto envolvimento de Irã e Paquistão no apoio a insurgentes eram temas recorrentes aos líderes militares.

Os documentos informam que pelo menos 195 civis foram mortos e outros 174, feridos. O número, contudo, pode ser subestimado porque, em muitas missões, as tropas omitem esse tipo de acontecimento.

Erros que ocasionaram morte de civis também incluem o dia em que soldados franceses bombardearam um ônibus cheio de crianças em 2008, matando 8. Uma ronda similar feita pelas tropas norte-americanas matou 15 passageiros.

Os documentos também apontam o extermínio de uma vila durante uma festa de casamento, incluindo uma mulher grávida, em um aparente ataque de vingança.

Os EUA também acobertaram que o Taleban adquiriu mísseis aéreos, e que escondeu um massacre perpetrado pelo grupo terrorista devido ao uso de bombas, que dizimaram mais de 2.000 civis até então.

As tropas no Afeganistão mantinham ainda uma unidade de "caçadores" para "matar ou capturar" líderes do Taleban sem julgamento.

Os documentos foram vazados primeiramente aos jornais britânico "Guardian", o alemão "Der Spiegel" e o norte-americano "The New York Times".

O jornal britânico também revelou documentos secretos que comprovam o desenvolvimento dessas ações pelas tropas de coalizão.

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