Acordo de cooperação militar com os EUA

Paulo Ricardo da Rocha Paiva
Coronel de Infantaria e Estado-Maior

Correio Braziliense

A exposição em televisão da Estratégia Nacional de Defesa (END) pelo ministro da pasta pertinente, contemplando plano para o reaparelhamento das Forças Armadas, chegou a produzir alento promissor para a autoestima dos brasileiros, acostumados a engolir sapos em decorrência do descompasso entre a projeção econômica alcançada pelo país, oscilante entre a 5ª e a 8ª posição no ranking mundial, e a ignominiosa fragilidade em termos de capacitação no campo militar, que o impede, mesmo, de garantir a posse dos seus invejáveis e cobiçados recursos naturais.

Eis que, novamente anestesiados por falta de compromisso anacrônica, repetindo os desatinos perpetrados no governo de FHC, acertamos de forma subserviente e, no mínimo, suspeita, uma cooperação militar justo com o "irmão Caim do Norte", a maior potência militar do planeta, que nunca escondeu as suas expectativas para o futuro da nossa grande Região Norte. E isso de maneira intempestiva, posto que ainda não estão criadas condições para segura e confiante decolagem de uma indústria de material bélico que seja consentânea com o projeto defensivo estratégico visualizado para o país.

Em realidade, o ajustado representa retrocesso ao basta que se deu em 1977 a um processo humilhante de aquisição de material ultrapassado, agora transmudado para cooperação nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, apoio logístico, segurança tecnológica e aquisição de produtos e serviços de defesa. O fato é que, da noite para o dia, as medidas paliativas de compra de helicópteros, submarinos e de caças, uma forma de calar a boca das nossas indefesas legiões, passaram a representar ainda menos para o real, emergencial e urgente rearmamento de que a nação carece, não para hoje, mas para ontem.

Aliás, amadorismo, falta de visão prospectiva e miopia estratégica é o que tem sobrado nos acordos pertinentes à área da defesa, todos na contramão de ensinamentos comezinhos de Sun Tzu, o de abril deste ano evidenciando, deve ser dito, uma intenção velada de abortamento do embrião de posição político-estratégica de defesa nacional anunciada pelo Ministério da Defesa. Que não se duvide:, o que falta em nós sobra neles de esperteza, aplicados que são na observância pura e simples, mas, sobretudo, onipresente, dos princípios do grande mestre da guerra.

Alerta! A intenção de ingerência por parte das grandes potências militares em nosso gigantesco manancial hídrico sempre foi alardeada pelos seus líderes, sendo de todo interesse deles a manutenção de um Brasil fragilizado. Se o senhor Jobim tivesse escutado as chacotas dirigidas aos cadetes de Agulhas Negras, chamados pelos seus colegas de West Point de "matadores de índios", quando em visita àquela academia, por certo sua presença de espírito acurada não olvidaria o fato de que parte significativa da sociedade americana está sendo condicionada para um tipo de confrontação que tem tudo a ver conosco. Mas quero acrescentar que nosso cadete, altivo, não baixou a crista e retrucou: "Na Amazônia podem até entrar, quero ver sair!"

É lamentável. A fé dos jovens soldados não é respaldada por gestões tão promissoras, em termos de quebra de tabus, tão propelentes no sentido de posturas independentes de pressões alienígenas, mais preocupadas com os "problemas de enfrentamento" por que passarão nossos filhos e netos fardados. Enfim, o sonho acabou, ruiu a crença na recuperação do esmaecido orgulho nacional. 

Não seria hora do profissional das armas, aquele previdente com mais de 4O anos de serviço, bacharel, mestre e doutor em ciências militares, ser cumulado com a primazia em pasta tão peculiar?

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