Avião cai após tripulação abortar missão de bombardear Benghazi

FOLHA DE SP
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS 

Um avião das Forças Aéreas da Líbia caiu nesta quarta-feira perto de Benghazi (leste) depois que sua tripulação se recusou a obedecer as ordens de bombardear a cidade e se ejetou da aeronave --uma Sukhoi-22 de fabricação russa--, caindo em segurança em terra firme com a ajuda de paraquedas. 

As informações são do jornal líbio "Quryna", que cita uma fonte militar. De acordo com um coronel de uma base aérea perto de Benghazi, os tripulantes seriam o capitão Attia Abdel Salem al Abdali e seu número dois, Ali Omar Gaddafi.

Ali Omar Gaddafi é da mesma tribo do ditador Muammar Gaddafi, os Gadhadhfa, disse Farag Al Maghrabi, morador que viu os pilotos e os destroços do jato. Al Maghrabi disse que a aeronave caiu em uma área deserta nos arredores do porto de Breqa, sem causar maiores danos.

A recusa dos militares mostra que o ditador Muammar Gaddafi está cada vez mais isolado até mesmo dentro das suas Forçar Armadas. Mais cedo, oficiais do Exército líbio na zona de Al Jabal al Akhdar, no nordeste do país, anunciaram que já fazem parte da "revolução do povo", em um vídeo divulgado pelas emissoras de televisão árabes Al Jazeera e Al Arabiya. 

"Nós, os oficiais e os soldados das forças armadas na zona de Al Jabal al Akhdar, anunciamos nossa união total à revolução popular", disse um porta-voz militar das Forças Armadas líbias na região. O porta-voz anunciou ainda o compromisso desses militares em trabalhar para proteger as instalações públicas e privadas na região. 

Na véspera, o ministro do Interior líbio e general do Exército, Abdul Fatah Yunis, pediu demissão e incentivou as Forças Armadas a se unirem ao povo em sua luta por legítimas reivindicações, informou a Al Jazeera. 

Gaddafi tenta se ater ao poder com uma repressão violenta aos protestos, em confrontos que deixaram ao menos 300 mortos em todo país. Parte desta reação inclui o uso de aeronaves das Forças Armadas para bombardear os redutos da oposição, que já teria o controle da faixa leste do país. 

Fontes citadas pela cadeia Al Jazeera na terça-feira já anunciavam que os opositores do regime tinham tomado o controle de Al Baida, situada entre Benghazi e a fronteira com o Egito. Já o responsável de relações gerais do Ministério do Interior líbio, Naji Abu Hrus, advertiu que em Al Baida foi proclamada a criação de "um emirado islâmico". 

O ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, informou na manhã desta quarta-feira que a província líbia de Cyrenaica (leste) já não está mais sob controle do governo de Gaddafi. Ele afirmou que ouviu a informação da Embaixada da Itália em Trípoli. 

CERCO
 
Intensos tiroteios foram registrados nesta quarta-feira em Trípoli, enquanto forças leais a Gaddafi, apertam o cerco na capital do país. Manifestantes antigoverno também dizem terem assumido o controle de diversas cidades, um dia depois de o mandatário ter afirmado, em discurso, que morrerá em solo líbio como "mártir". 

Enquanto moradores de cidades na região leste do país celebravam, levantando bandeiras da antiga monarquia, o clima em Trípoli era de desânimo. Habitantes estavam com medo de sair de casa, afirmando que forças pró-Gaddafi estavam abrindo fogo aleatoriamente nas ruas. 

A indignação internacional aumentou um dia depois de o ditador ter prometido defender seu regime e pedir para partidários que reprimam os manifestantes de oposição. Mesmo antes da ameaça, a retaliação de Gaddafi já era a mais forte no mundo árabe, desde que começaram a tomar as ruas revoltas antigoverno no Oriente Médio. 

Os confrontos em Trípoli ocorreram no momento em que relatos indicam que a oposição teria assumido o controle de Misrata, com testemunhas afirmando que pessoas buzinavam e levantavam bandeiras da monarquia pré-Gaddafi para celebrar. 

Misrata seria a primeira grande cidade no oeste a ser tomada por forças antigoverno. Faraj al Misrati, um médico local, afirmou que seis moradores foram mortos e 200 ficaram feridos desde 18 de fevereiro, quando manifestantes atacaram escritórios e prédios ligados ao regime. 

Segundo ele, moradores formaram comitês para proteger a cidade, limpar as ruas e tratar dos feridos. "A solidariedade entre as pessoas aqui é incrível, até mesmo os inválidos estão ajudando", afirmou por telefone à agência de notícias Associated Press. 

Novos vídeos postados pela oposição líbia no Facebook também mostram vários manifestantes levantando a bandeira da monarquia em um prédio em Zawiya, nas proximidades de Trípoli. Outras imagens mostraram diversas pessoas alinhando blocos de cimento e ateando fogo a pneus para fortificar posições em uma praça na capital. 

As imagens não puderam ser confirmadas de forma independente. 

SANGUE
 
Em um discurso televisionado na terça-feira, Gaddafi mostrou-se desafiador, prometeu lutar até sua "última gota de sangue" e gritou para que seus partidários contra-ataquem para defender seu regime. O discurso serviu como uma chamada para que líbios pró-Gaddafi controlem a capital e tomem de volta outras cidades. 

Após uma semana de revolta, manifestantes apoiados por unidades do Exército que desertaram reivindicaram o controle de quase toda a parte leste da costa líbia, incluindo diversas áreas produtoras de petróleo. 

"Vocês, homens e mulheres que amam Gaddafi, saiam de suas casas e lotem as ruas", afirmou o ditador. "Saiam de suas casas e os ataquem em suas tocas."

Tiros de celebração foram disparados por partidários do mandatário em Trípoli após o discurso, enquanto em Benghazi --a segunda maior cidade do país e controlada por opositores-- pessoas jogaram sapatos em uma tela que exibia o pronunciamento. 

Uma mulher que vive perto do centro de Trípoli disse que intensos tiroteios ocorreram na manhã de quarta-feira quando partidários de Gaddafi, armados, e mercenários estrangeiros abriram fogo nas ruas. Ela afirmou que seu sobrinho está desaparecido desde terça-feira. 

"Ele foi participar dos protestos e não voltou. A família inteira está surtando", contou, acrescentando que as ruas estão vazias e que os feridos não podem ir a hospitais por medo de serem baleados.

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