Pilotos argentinos são indiciados por 'voos da morte'

CLAUDIA GAILLARD - REUTERS
 
Três pilotos argentinos foram indiciados na quinta-feira por causa dos "voos da morte" feitos na época da ditadura, quando prisioneiros políticos eram jogados de aviões militares no rio da Prata, disseram fontes do tribunal.

 
A acusação faz parte da investigação dos crimes cometidos na escola naval ESMA durante a "Guerra Suja" de 1976 a 1983, na qual 30 mil pessoas foram sequestradas e mortas.

 
"Na ESMA, eles davam um fraco tranquilizante aos prisioneiros. Ao entrar no avião, eles tiravam as roupas, as algemas dos prisioneiros e davam a injeção final. Aí, eles atiravam a pessoa para fora do avião, viva e dormindo", disse o promotor
Horacio Méndez Carreras à Reuters TV.
 
Cerca de 5 mil pessoas suspeitas de serem dissidentes de esquerda foram mantidas no centro clandestino de detenção. Muitos morreram nos voos da morte e poucos corpos foram recuperados.

 
Um dos corpos identificados é o de Leonie Duquet, uma freira francesa que desapareceu em 1977 depois de ser detida na ESMA com a sua colega, Alice Domon.

 
Os promotores acreditam que três ex-pilotos da guarda costeira foram os responsáveis por pilotar os aviões dos quais as freiras foram arremessadas, porque o corpo de Duquet foi encontrado em uma praia dias depois que o voo aconteceu, de acordo com registros de rotina.

 
Os voos da morte aconteciam às quartas-feiras e Duquet foi vista com vida pela última vez ao lado de Domon em foto tirada na ESMA na terça-feira anterior ao seu corpo ter sido encontrado.

 
"Toda quarta-feira, os guardas vinham ... e começavam a gritar os números. Eu era 896. Se eles chamassem o seu número, você era levado", disse o antigo prisioneiro da ESMA Ricardo Coquet.

 
"Então, os prisioneiros eram informados que tomariam tranquilizantes para não causar problemas na viagem, que seria longa", acrescentou.

 
O juiz federal Sergio Torres ordenou que os três pilotos fossem presos, disse a agência de notícias oficial do judiciário. Um antigo oficial da Marinha e um advogado também foram indiciados.

 
Os tribunais condenaram ex-membros da junta militar por crimes contra os direitos humanos durante o retorno da democracia em 1983, mas foram liberados depois por conta da anistia.

 
Reportagem adicional de Juan Bustamante e Kylie Stott

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