Motorola e Exército vão fazer testes da rede 4G

Por Gustavo Brigatto - Valor

Não são apenas as operadoras de telefonia móvel que estão às voltas com os testes da próxima geração de redes de celular, a 4G. A partir de novembro, o Exército Brasileiro também começará a experimentar o sistema que permite transmitir informações a velocidades que podem chegar a 100 megabits por segundo.

Ao estudar a tecnologia, a intenção do Exército não é se preparar para disputar mercado com as teles. O objetivo é avaliar o uso da 4G nas comunicações internas da corporação e em serviços de emergência de todo o país. "É a nova geração de equipamentos para comunicações críticas. Pretendemos estar preparados para as demandas futuras, como a Copa e a Olimpíada", diz o general Santos Guerra, comandante de comunicações e guerra eletrônica do Exército.

O piloto começará a ser feito em Brasília e tem duração prevista de seis meses. O início depende de uma autorização especial da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Segundo Guerra, as negociações estão em curso e a previsão é que a permissão seja emitida até novembro. O projeto terá um custo total de US$ 2 milhões, que será bancado integralmente pela Motorola Solutions, empresa de redes originada da cisão da Motorola no começo do ano. A outra empresa criada com a separação foi a Motorola Mobility, com foco em celulares, que recebeu uma proposta de compra pelo Google de US$ 12,5 bilhões.

Além do Exército, as unidades de polícias e outros órgão de segurança pública de todo o país poderão participar dos testes. O piloto será feito na frequência de 700 MHz, destinada à transmissão de sinal da TV aberta. Com a transição do padrão analógico para o digital, as empresas de TV terão que deixar de usar a faixa, o que tem gerado discussões sobre sua destinação futura. Uma das possibilidades é o uso por serviços públicos de emergência. Atualmente, Exército e forças de segurança usam frequências VHF, UHF e 800 MHz em suas comunicações. As tecnologias disponíveis, no entanto, limitam o uso das frequências à transmissão de voz. Com a 4G, passa a ser possível trafegar dados também.

A capacidade de transmitir voz e dados em uma faixa exclusiva evita os congestionamentos que podem acontecer nas redes das operadoras, disse Greg Brown, executivo-chefe da Motorola Solutions, ao Valor. Em visita ao Brasil na última semana, Brown encontrou-se com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, com quem discutiu a destinação das faixas de 700 MHz. De acordo com o executivo, o governo está disposto a avaliar o uso na área de segurança pública. Uma decisão sobre o tema, entretanto, deve demorar. As emissoras de TV brasileiras têm até 2016 para liberar o espectro. As companhias ainda tentam alongar esse prazo, ou manter o uso após o período de transição.

Há duas semanas, durante a ABTA, congresso do setor de TV por assinatura realizado em São Paulo, o ministro afirmou que o governo pretende fazer testes com a tecnologia 4G durante a Rio+20, em junho. O projeto seria executado pela Telebrás. Bernardo não deu detalhes se o teste seria feito na frequência de 700 MHz, ou na faixa de 2,5 GHz - esta última, com previsão de ser vendida em abril, pela Anatel, para operadoras de telefonia móvel.

Guerra destaca que o uso da tecnologia de 4G em 700 MHz pode trazer mais integração entre o Exército e as polícias dos Estados em operações realizadas de forma conjunta, como a ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Guerra conta que por conta das diferentes tecnologias usadas por cada força, em alguns momentos durante a ação era preciso ter oficiais de cada uma delas com seus respectivos equipamentos de comunicação para que as conversas entre as equipes pudessem acontecer: "Se tivéssemos uma estrutura padronizada, seria mais fácil."

A iniciativa de fazer o piloto com o Exército brasileiro faz parte da estratégia da Motorola Solutions de crescer como uma companhia independente. As empresas e os governos são os grandes alvos. De acordo com Brown, só o mercado de 4G para segurança pública pode movimentar entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões nos próximos cinco anos em todo o mundo. Para o Brasil, especificamente, o executivo diz acreditar que é cedo para fazer estimativas. Nas empresas, uma das apostas é a tecnologia de identificação de objetivos por radiofrequência, ou RFID, na sigla em inglês.

De acordo com Brown, a divisão da Motorola em duas companhias tem dado resultados melhores do que os imaginados durante os três anos que antecederam o processo. "Conseguimos ter um balanço forte que nos permitiu distribuir dividendos para os acionistas e fazer um programa de recompra de ações no valor de US$ 2 bilhões ao longo de 2012", diz. Brown diz acreditar que a venda da Motorola Mobility reforça a tese que motivou a separação: de que as duas empresas teriam mais valor individualmente do que quando operavam juntas.

Sobre a operação com o Google, Brown afirma que isso não muda em nada a atuação da Solutions. Em termos operacionais, as companhias completaram a separação em janeiro. Explicou, ainda, que a Solutions ficou com o direito exclusivo de usar a marca Motorola nas áreas de governo e empresas. Perguntado sobre a possibilidade de venda da companhia, Brown pondera. "Não cabe a mim decidir isso. Mas temos muita confiança no que estamos fazendo", diz.

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