Assad prevê novo Afeganistão caso o Ocidente ataque a Síria

GUSTAVO CHACRA, CORRESPONDENTE / NOVA YORK - O Estado de S.Paulo 

O presidente da Síria, Bashar Assad, admitiu ter cometido erros no começo da repressão a opositores e afirmou que o Ocidente pode provocar o caos se tentar uma intervenção militar no país. A afirmação foi dada em entrevista para o jornal britânico Sunday Telegraph publicada ontem.

"Certamente os países ocidentais aumentarão a pressão. Mas a Síria é diferente em todos os aspectos do Egito, da Tunísia e do Iêmen. Nossa história é diferente, nossa política é diferente. Somos o centro dessa região, como se fosse uma falha tectônica. Se mexer, você pode provocar um terremoto. Vocês querem ver um outro Afeganistão ou dezenas de Afeganistãos? Qualquer problema na Síria incendiará toda a região. Se o plano é dividir a Síria, dividirá toda a região", disse Assad ao jornalista Andrew Gilligan.

O líder sírio, que vestia calça jeans, segundo a descrição do repórter, admitiu ter cometido "muitos erros" na primeira parte dos levantes. "Temos muito pouca gente na polícia e no Exército treinada para lidar com a Al-Qaeda. Se vocês enviassem as tropas para as ruas, a mesma coisa iria acontecer. Mas agora estamos lutando apenas contra esses terroristas", acrescentou. 

Na Síria, o regime usa o discurso de que grupos terroristas armados são responsáveis pelos levantes. Na realidade, existem milícias armadas, em alguns casos compostas por desertores do Exército, e manifestantes pacíficos. Segundo a ONU, mais de 3 mil pessoas foram mortas pela repressão do regime. O governo diz que as milícias mataram mais de mil soldados e policiais. 

Para o Sunday Telegraph, Assad insistiu ainda que tem tentado levar adiante reformas desde o início do processo. Opositores com base no exterior afirmam que estas iniciativas não são eficazes. O líder sírio disse ser difícil o Ocidente entender a sua liderança, comparando as diferenças à de um Mac e um PC. "Os dois computadores fazem o mesmo trabalho, mas eles não se entendem. É preciso traduzir.

Se quiser me analisar como o Oriente, você não pode me analisar por meio do sistema operacional ocidental, ou cultura", afirmou. 

A ONU voltou a fazer um apelo neste final de semana por reformas. Pelo menos 50 civis e membros das forças de segurança do país morreram no sábado, segundo fontes de ambos os lados.

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