Jovem acusa militares de tortura em favela

Morador da Vila Cruzeiro diz que foi amarrado e teve braço quebrado, o que teria motivado a revolta antes da visita do príncipe Harry ao Complexo do Alemão

Jornal do Commércio

RIO – A Polícia Civil e o Exército começam a investigar hoje uma denúncia de que militares da Força de Pacificação da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, torturaram um jovem de 22 anos, morador da favela. Segundo o rapaz, que registrou a ocorrência ontem à tarde na 22ª DP (Penha), o conflito entre moradores e soldados ocorrido no sábado, pouco antes da visita do príncipe Harry ao Complexo do Alemão, foi motivado por pessoas revoltadas com seu espancamento. Ele afirma que foi amarrado a uma árvore e levou choques.

O comandante das Forças de Pacificação dos complexos da Penha e do Alemão, general Tomás Miguel Paiva, disse que esta é a denúncia mais grave envolvendo soldados desde a tomada das comunidades, em novembro de 2010. Segundo ele, será aberto um inquérito na Justiça Militar para

apurar os fatos num prazo de 40 dias.

“Nós somos os maiores interessados em esclarecer o ocorrido e vamos até as últimas consequências. Se as suspeitas se confirmarem, afastarei os envolvidos de imediato. Caso tenha havido qualquer ação irregular por parte da tropa, os soldados serão responsabilizados criminalmente. O Exército repugna esta atitude”, disse.

Na tarde de ontem, na porta da 22ª DP, a vítima deu sua versão para os fatos. Ele contou que, por volta de 4h30 do sábado, descia a Vila Cruzeiro com a namorada, quando, na Rua 12, foi abordado por uma patrulha do Exército.

“Quando eles entraram, alguns traficantes que estavam próximo correram. Eles, então, me seguraram e disseram que eu tinha que contar para onde eles haviam fugido e onde escondiam drogas.

Disse que não sabia”, contou o jovem, que teve o braço direito quebrado e sofreu escoriações no rosto, que ontem ainda estava inchado.

De acordo com o rapaz, enquanto a namorada procurava alertar moradores sobre o ocorrido, ele foi colocado dentro de um jipe, onde estavam cerca de nove soldados encapuzados, que teriam dito:

“Nós vamos te levar para um lugar onde você vai contar tudo”. “Fui levado a uma mata, onde me amarraram numa árvore e começaram a me agredir. Me jogaram água e passaram a me dar choques e a jogar spray de pimenta. Quando senti o estalo do braço quebrando, falei para me soltarem, que ia contar tudo. Foi quando tiraram as algemas e eu consegui fugir, rolando uma ribanceira”, relatou.

O rapaz pediu a um amigo para levá-lo ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, onde foi atendido por volta de 7h30. “Quando retornei do hospital, a população já estava revoltada, atirando paus e pedras nos soldados da Força de Pacificação.”

A manifestação ocorreu alguns minutos antes da chegada de Harry ao Complexo do Alemão.

Durante o confronto, três pessoas foram presas. De acordo com o Exército foram disparados, pelo menos, 40 tiros de armas de fogo contra as tropas.

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