Militares enfrentam hostilidade no Alemão

Crianças e jovens atiram pedras e garrafas nas tropas por ordem do tráfico, segundo afirma o Exército

Vera Araújo – O Globo

A mudança na estratégia de policiamento do Exército nos complexos da Penha e do Alemão vem gerando hostilidade por parte de crianças e de jovens contra as tropas. Desde que os militares intensificaram o patrulhamento a pé nos becos e vielas de áreas mapeadas como pontos de venda de drogas, houve aumento na quantidade de entorpecentes apreendidos. Até ecstasy, droga que não havia sido encontrada nas favelas pelo Exército, foi encontrado nas incursões feitas a partir de fevereiro. Com a perda de drogas e de território, os traficantes partiram para o contra-ataque. Segundo o serviço de inteligência do Exército, bandidos dão ordens a moradores para que provoquem os soldados que patrulham a região.

Como numa brincadeira de gato e rato, crianças usam as mãos para formar as iniciais de uma facção criminosa, e fogem quando os militares avançam na sua direção. Imagens do Exército obtidas pelo GLOBO revelam como garotos agem. Em casos mais extremos, jovens pulam entre as lajes para atirar garrafas, pedras e até lançar rojões.

— Sabemos que estamos incomodando. O nosso serviço de inteligência nos informou que as ações de hostilidade são orquestradas pelo tráfico. Afinal, estamos estragando o “negócio” deles. A finalidade do Exército aqui é proteger a população — disse o comandante da Força de Pacificação, general Tomás Miguel Paiva.

Nos complexos desde o dia 26 de janeiro, os 1.800 militares da 11 ª Brigada de Infantaria Leve, de Campinas (SP), e da 6ª Divisão de Exército de Porto Alegre (RS) já apreenderam 300 unidades de ecstasy, cerca de cinco quilos de cocaína e dois quilos de maconha. A quantidade de cocaína representa mais do que o dobro do volume encontrado em patrulhas anteriores. Para driblar a vigilância, segundo o general, os bandidos criaram mecanismos que vão além de radiotransmissores e celulares.

Os traficantes não só reposicionaram barricadas feitas com sofás e restos de obras, como instalaram campainhas. Quando acionadas por olheiros, elas dão o alarme a mais de 300 metros de distância. À noite, o sistema que os bandidos adotaram é o de fazer ligações clandestinas na iluminação pública. Ao avistarem os militares, eles piscam as luzes nos postes.

— Se estamos apreendendo grande quantidade de drogas é sinal de que elas estão entrando. É chato ser revistado, mas é uma ação necessária. Felizmente, a maioria apoia o nosso trabalho. Uma prova disso são as informações que chegam ao Disque-Denúncia e à nossa ouvidoria— afirmou o general.

Um dos últimos casos ocorridos foi a denúncia de um estudante de 22 anos, que acusou alguns militares da Força de Pacificação na Vila Cruzeiro de tê-lo torturado no último dia 10.

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