Obama e Netanyahu expõem divergências

CAROLINA VICENTIN – CORREIO BRAZILIENSE

Em meio à crescente ameaça de um ataque preventivo de Israel ao Irã, o presidente Barack Obama reiterou seu apoio ao governo israelense, mas fez questão de ressaltar sua preferência por uma solução diplomática para a crise. Durante uma visita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu à Casa Branca, Obama assegurou que o compromisso dos EUA com o Estado judeu é “sólido como uma rocha”.

Netanyahu, que nunca teve um relacionamento caloroso com o líder norte-americano, lembrou que Israel continuará “sendo dono de seu destino”. Ontem, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) voltou a falar de “atividades” na instalação nuclear de Parchin, próxima a Teerã, uma das instalações suspeitas de abrigar operações destinadas à produção de armas.

Os dois governantes encontraram-se no Salão Oval para discutir a condução do impasse com Teerã. Há meses, EUA e Israel vêm adotando abordagens distintas em relação ao tema. De um lado, o presidente Obama defende que as sanções econômicas serão capazes de frear as ambições nucleares do regime islâmico. De outro, os israelenses buscam apoio para um eventual ataque preventivo.

“Acreditamos que existe uma janela que permite a resolução pacífica dessa questão”, afirmou Obama.

“Quando digo que todas as opções estão na mesa, realmente é isso o que quero dizer”, assinalou, após conversas a portas fechadas com Netanyahu. No domingo, o presidente havia adotado o mesmo tom em discurso para o principal lobby pró-Israel nos EUA, o Comitê Americano-Israelense de Assuntos Públicos (Aipac). Na ocasião, chegou a falar na possibilidade de usar a força militar, caso fique comprovado que o programa nuclear iraniano tem fins bélicos.

Com olhar sério, Netanyahu aproveitou o encontro com Obama para defender, novamente, o direito de seu país a defender-se das ameaças a sua existência. “Israel tem o direito soberano de tomar as próprias decisões”, ressaltou. “Minha responsabilidade suprema, como primeiro-ministro, é velar para que Israel continue a ser dono de seu destino”, emendou. Nos EUA, o impasse iraniano tem sido usado pela oposição republicana para atacar Obama, como parte da campanha para a eleição presidencial de novembro. “Há também a percepção da comunidade judaica americana de que o presidente não está apoiando Israel como deveria”, aponta James Robbins, pesquisador de segurança nacional no American Foreign Policy Council.

Elliot Abrams, analista do Conselho de Relações Exteriores (CFR) e colaborador dos expresidentes republicanos Ronald Reagan e George Bush (pai), considera que Obama ainda pode sair fortalecido, dependendo de como os israelenses conduzirem o assunto. “Acho que um ataque israelense ao Irã vai, no fim, ajudar Obama, porque os EUA conseguiriam impedir eventuais condenações e sanções (a Israel) nas Nações Unidas”, avalia. A imagem do presidente também seria preservada caso aliados de Teerã, como o Hezbollah libanês, decidissem aplicar retaliações. Nessa situação, os EUA enviariam suporte humano e material ao aliado. Abrams discorda que punições econômicas sejam o bastante para conter o Irã em seu projeto nuclear. “As sanções mais rígidas são muito recentes e têm pouco tempo para funcionar”, afirma.

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