Caças causaram mais danos

No Palácio do Planalto, 49 vidros trincaram por conta da passagem de dois Mirage no último domingo. A estimativa inicial era de 28. No STF, começaram ontem os reparos

ANA POMPEU e ARIADNE SAKKIS - CORREIO BRAZILIENSE

 
Os prejuízos provocados no Palácio do Planalto após a passagem dos caças Mirage F 2000 na cerimônia de troca de bandeira, no último domingo, são maiores do que o estimado inicialmente. 


Segundo cálculos da Secretaria-Geral da Presidência da República, pelo menos 49 vidros trincaram por conta da onda de choque causada pela aeronave — na segunda-feira, o total de danos chegava a 28 estruturas destruídas.
 
No prédio principal, acabaram rachados seis vidros laminados grandes — blindex, com película —, localizados no térreo, no 3º e no 4º andares. No subsolo, a lateral da garagem perderam-se 27, de tamanho médio. Por fim, no prédio do setor de transportes, localizado fora da área do Palácio do Planalto, no lado oposto da Via N2, 16 vidros comuns pequenos não resistiram ao impacto e um deles danificou a pintura da lateral de um veículo oficial.


O custo do conserto pode chegar a R$ 40 mil. Para a contratação do serviço, a Presidência precisa fazer um pregão eletrônico, processo que deve ser concluído em até 20 dias. A partir daí, outros 10 dias serão necessários para a compra das peças. A Força Aérea Brasileira (FAB) entrou em contato com a Secretaria-Geral da sede do governo federal, mas ainda não definiu os detalhes do ressarcimento.

 
No Supremo Tribunal Federal (STF), após a remoção dos estilhaços das janelas quebradas pelo caça da FAB, começou o processo de reparos das estruturas destruídas. Ontem, uma equipe avaliou o edifício localizado na Praça dos Três Poderes e mediu o tamanho dos vidros, que serão feitos sob encomenda. Por enquanto, foram instalados apenas alguns tapumes de madeirite para proteger o interior da Corte.

 
Estragos
 

A assessoria de Comunicação do tribunal informou que a primeira fase da intervenção é operacional e consiste em calcular os estragos e decidir quais espaços terão prioridade no restauro. O mais provável é que o gabinete do ministro presidente do STF, Carlos Ayres Britto, seja um dos primeiros. Todas as janelas da sala onde Britto despacha ficaram destruídas. No total, 65 das 240 vidraças do prédio acabaram destruídas. Ainda que a fachada tenha sido mais prejudicada, todos os lados do STF revelaram danos. O custo será de, no mínimo, R$ 35 mil.
 
O estrago resultou do excesso de velocidade registrada em um dos dois caças que se apresentaram no fim de semana. A Aeronáutica admitiu a imprudência e informou que o piloto, cuja identidade e patente não foram reveladas, está afastado das atividades Aéreas. Ele poderá sofrer sanções. O piloto passou pela Esplanada dos Ministérios a 1.100km/h, quase rompendo a barreira do som. Segundo a FAB, a velocidade ideal para uma missão depende da temperatura atmosférica. Por causa disso, não há um número fixo. Mas, segundo as condições do domingo, o militar não poderia ultrapassar 1.000km/h.

 
O incidente obrigou o ministro Ayres Britto e a equipe dele a se acomodarem provisoriamente no Conselho Nacional de Justiça, órgão também presidido por ele. O CNJ funciona no Anexo 1 do STF. No segundo anexo, concluído na década de 1990, ficam as salas de sessão das duas turmas, onde estão alojados os gabinetes dos ministros.

 
Reforma
 

A estimativa é que o trabalho de reposição das janelas dure até duas semanas, mas a emergência pode acabar contribuindo para que todo o prédio passe por reformas. Segundo o Correio apurou, estavam previstas obras no plenário da casa. Ontem, funcionários retiraram os móveis do local onde são julgados os processos. Além disso, desde o início da semana, há servidores renovando a pintura do teto.
 
Desde a construção e a inauguração, em 21 de abril de 1960, o STF nunca passou por grandes alterações estruturais. O Anexo 1 teve as esquadrias e os vidros trocados uma vez. A obra seria apenas no edifício sede, mas ela está sujeita à aprovação dos ministros. A Corte entrou em recesso na última segunda-feira e volta ao trabalho em agosto. Só então os ministros poderão apreciar se trocam as vidraças por vidros temperados. A mudança exige também a substituição das esquadrias.

 
A assessoria do STF disse que a previsão é de que a reforma ocorra após a posse de Joaquim Barbosa como presidente do tribunal, marcada para dezembro. Os trabalhos devem durar pelo menos um ano e meio. Ainda não há estimativa de quanto o projeto custará aos cofres públicos. A decisão administrativa do colegiado deve incluir também se as laterais do plenário e do gabinete da presidência receberão vidros blindados. Mesmo em obras, o tribunal não interromperá os trabalhos.

 
ENTENDA O CASO
Rastro de destruição

 

Os caças Mirage F 2000 da Aeronáutica abriram a cerimônia de troca da bandeira, no último domingo, na Praça dos Três Poderes. A apresentação começou às 9h50. Por volta das 10h20, no segundo sobrevoo das aeronaves, sentido Norte — Sul, o rasante do primeiro avião provocou ondas de choque tão intensas que a passagem da aeronave sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) destruiu 20% das vidraças da Corte. Na sequência da viagem, os Mirage F 2000 passaram sobre o Setor de Clubes Sul, onde a vibração provocou rachaduras em uma academia, e pelo Lago Sul, bairro no qual várias casas, incluindo a residência oficial do embaixador de Portugal, além de estabelecimentos comerciais, tiveram a estrutura danificada.

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