Com o aumento de mortes de civis, Israel e Hamas discutem termos de cessar-fogo

Tyler Hicks/The New York Times

O Globo
 
CAIRO, JERUSALÉM e CIDADE DE GAZA - Uma série de negociações teria resultado num acordo sobre 90% dos pontos necessários para a declaração de um cessar-fogo entre Israel e o movimento islâmico Hamas na Faixa de Gaza. E sob pressão internacional para evitar uma operação militar por terra no território palestino, o Gabinete de segurança de Israel convocou uma reunião que se arrastou madrugada de hoje adentro para discutir os detalhes finais do texto, elaborado no Cairo sob a mediação de Egito, Turquia e Qatar. À rede de TV al-Arabiya, fontes diplomáticas disseram que a trégua seria implementada em duas fases. Na primeira, os dois lados suspenderiam os ataques durante um ou dois dias. E em debate estaria o fim dos assassinatos seletivos e, ainda, a suspensão do bloqueio israelense imposto à Faixa de Gaza desde 2007 - uma das maiores exigências do Hamas.


Sobre os esforços diplomáticos pesou o aumento das mortes de civis palestinos. Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, o número total de vítimas do confronto chegou a 107 - entre eles, 26 crianças, dez mulheres e 12 idosos. Pelo menos 36 são militantes reconhecidos. E a contagem de feridos também não para de crescer: 860 pessoas, sendo 260 crianças.


Os termos do acordo em discussão não foram confirmados em nenhum dos lados da fronteira.


Fontes diplomáticas, porém, asseguram que um dos entraves é a exigência de garantias egípcias e internacionais pelos dois lados.


Apesar da retórica desafiadora comum entre as lideranças israelenses e palestinas, os números do embate davam indícios da disposição mútua de cessar as hostilidades. O número de agressões caiu ontem: 130 foguetes foram lançados de Gaza contra Israel (em comparação a 156 registrados no domingo) e o Exército atacou 80 alvos em Gaza (contra centenas de bombardeios na véspera).


O líder político do Hamas, Khaled Meshal, defendeu o cessar-fogo. Mas provocou:


- Quem começou isso que pare. Se eles quisessem lançar uma ofensiva terrestre, já teriam feito isso. Israel está usando a ameaça de invasão para ditar as regras e nos forçar ao silêncio. Desafio Israel a entrar na Faixa de Gaza.


O governo israelense preferiu ignorar e adotar um discurso mais contido.

- Se houver calma no Sul do país e não houver foguetes e mísseis lançados contra nossos cidadãos ou ataques terroristas planejados contra nós na Faixa de Gaza, não vamos atacar - afirmou o vice-primeiro-ministro Moshe Yaalon, do conservador partido Likud.


Prédio da imprensa é bombardeado de novo


Segundo pesquisa do jornal "Haaretz", apesar de 84% dos israelenses aprovarem os bombardeios contra o Hamas, apenas 30% são favoráveis a uma operação terrestre, e outros 19% defendem que o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu trabalhe para assegurar o cessarfogo rapidamente. Fontes egípcias, palestinas e israelenses falavam ontem com uma ponta de otimismo.


- Estamos muito perto de chegar a um documento para cessar as agressões. Falta apenas um pouco mais de flexibilidade do lado israelense - disse no Cairo o primeiro-ministro egípcio, Hisham Kandil.


Nas ruas de Gaza, porém, o pesar contrastava com qualquer perspectiva de paz. Milhares participaram do funeral da família al-Dalu, que perdeu nove integrantes - de quatro gerações - num bombardeio israelense contra o bairro de Nasser, na Cidade de Gaza. As quatro crianças vítimas do ataque tiveram seus corpos cobertos com bandeiras palestinas e do Hamas.


- Mataram uma família que era segura e feliz. Por motivo nenhum, Israel cometeu um massacre, um crime horrível - lamentou Hatem al-Dalu, um parente.


Sob os gritos de "Deus é o maior!", a multidão foi guiada por integrantes do primeiro escalão do grupo, como o porta-voz Sami Abu-Zuhri.


- Isto aconteceu porque falhamos no combate ao inimigo, porque falhamos em defender o nosso povo. Vamos vingar a morte destes mártires - declarou ele à TV al-Aqsa.


Mais tarde, outro bombardeio causou ultraje: Israel alvejou o edifício Shorouk, conhecido por abrigar os escritórios da imprensa palestina e internacional, pelo segundo dia consecutivo. Dois cinegrafistas ficaram feridos. Israel alega que no local estavam quatro altos integrantes da Jihad Islâmica. Um morreu e três foram feridos.


À espera do anúncio de um acordo, a pressão ganha reforços dos dois lados da fronteira. O chanceler turco, Ahmet Davutoglu, vai à Gaza, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chega a Israel e à Cisjordânia.

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