Rússia confirma entendimentos com Brasil em defesa antiaérea

Dmitri Medvedev, Chefe de governo russo, aposta na complementaridade das duas economias.
 

William Waack - Jornal da Globo
Brasília, DF

O chefe de governo da Rússia, Dmitri Medvedev, confirmou entendimentos com o governo brasileiro para a venda de armamentos de defesa antiaérea.

A marca pessoal de Dmitri Medvedev é a cordialidade, em um país cada vez mais autoritário. A cara de Medvedev, ironiza a imprensa internacional, é o retrato das prometidas reformas políticas e econômicas da Rússia, mas a foto dele tem aparecido pouco com o chefão Vladimir Putin, o presidente, mandando em tudo.

"Não acho que o número de fotografias diz algo sobre a competência ou eficiência de políticos", rebateu Medvedev, polidamente, como sempre. "Gostaria até de aparecer menos", disse. Reconhece que a Rússia precisa se modernizar, que depende demais da exportação do gás e petróleo, que a burocracia é grande e pesada, que o país perdeu a liderança em muitos setores.

Medvedev repete o mesmo mantra que vale para o Brasil: o país tem que ganhar mais competitividade. As economias dos dois gigantes, Brasil e Rússia, são complementares, diz ele, e a Rússia está disposta a ajudar o Brasil no que ainda tem de muito competitivo: armas convencionais.

“Eu já discuti isso com a presidente e com o vice-presidente, nós vamos pensar em formas de ajudar. A Rússia tem um peso importante no mercado de armamentos. Temos ótimos produtos, modernos e com bons preços, então estamos prontos para desenvolver cooperação nessa área, e acho que as coisas estão progredindo”, diz.

Transferência de tecnologia? Claro, se o Brasil pagar bem. “Não tem sentido entregar tecnologia e perder dinheiro, mas, se for feito de forma a dar lucro tanto para a Rússia quanto para o Brasil, e, se, como resultado, recebermos algum dinheiro, é até normal que isso seja feito”, afirma.

Medvedev gosta da definição do Brasil como uma Rússia tropical, complexa, continental, mas se esquivou de uma resposta clara ao ser convidado a explicar aos habitantes brasileiros como justificar a prisão de mulheres de um conjunto punk que tocaram em uma igreja ortodoxa falando mal de Putin.

"Acho que os brasileiros devem ir à Rússia e formar sua própria opinião", respondeu. Da mesma maneira, disse que é politização desnecessária a campanha em países ocidentais contra funcionários do governo russo acusados de envolvimento no assassinato de um advogado que denunciou um esquema milionário de corrupção, o caso Magnitsky.

Medvedev não acha que existe uma nova Guerra Fria, embora a Rússia, admite, precise de se reafirmar no sistema internacional. Cordial como sempre, riu muito quando perguntado do sonho de Ostap Bender, o personagem literário russo que equivale a Macunaíma para os brasileiros. “Se eu tivesse tempo, sim, iria passear de calças brancas em Copacabana”, encerrou.

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